Em Março de 79
“Farto de todos aqueles
que com palavras fazem palavras mas onde não há uma linguagem;
Dirigi-me para a ilha
coberta de neve.
A veação não conhece
palavras.
As páginas em branco
dispersam-se em todas as direcções.
Eu dei com vestígios de
cascos de corça na neve.
Linguagem, mas nenhuma
palavra.”
Graus Negativos
“Encontramo-nos numa
festa que não gosta de nós. Ao fim, a festa deixa cair a sua máscara e
mostra-se tal como é: uma estação de manobras. Colossos gelados estão de pé,
sobre os carris, no nevoeiro. Um pedaço de giz riscou as portas da carruagem.
Não se devia mencionar,
mas aqui há muita violência reprimida. Por isso os pormenores são tão pesados.
E é tão difícil vermos o outro, que também existe: um raio de sol reflectido
que se movimenta por cima do muro da casa, que desliza através do bosque
ignorado, de rostos cintilantes; uma frase bíblica que nunca se escreveu: 'vem até mim, pois eu sou contraditório como tu'.
Amanhã trabalharei numa
outra cidade. Eu corro para lá, através da madrugada que é um grande cilindro
negro e azul. Oríon está pendurada por cima da geada. Crianças num montão de
mudez esperam pelo autocarro, crianças pelas quais ninguém reza. A luz cresce,
pouco a pouco, como o nosso cabelo.”
*Tomas Tranströmer
Comentários
Postar um comentário