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Mostrando postagens de novembro, 2014

Roupas velhas, vida nova*

Quando a dor impede dormir e se resolve a escrever pouquinho, pode-se chegar a uma tentativa de regeneração. Falam sobre reinventar. Revi essa palavra num cartão com a linda fênix de fogo subindo ao céu.... Sim, se pode reescrever o passado. A tentativa de ser outra pessoa persiste. Afinal, Por todos os lados se propaga a famigerada correção. O passado que nos fez ser quem somos! Para deixarmos de sê-lo há que se resignificar vivências, memórias e valores, embora estes estejam mais próximos ao essencial e ao presente... ou estariam ancorados em eventos mudos para o dia de hoje? Procura-se a chave da prisão da casa-corpo. Procura-se a vida nas dimensões sutis quando a matéria é campo minado. Os alunos percebem que além da letra há o intertexto, o contexto, a intenção, a entonação e a falácia. Os mundos dentro de mundos sugam para o interior do redemoinho o espírito indócil. Fatalmente, as roupas velhas, ainda no corpo, já não servem mais. *Vânia Dantas Filósofa

Uma noite*

o tio cuspia pardais de cinco em cinco minutos. esta grama de lágrimas forrando a alma inteira (conforme se diz da jaula de nervos) recebe os macios passos de toda a família na casa evaporada mais os vazios passos de ela própria menina. a avó puxava linhas de cor de dentro dos olhos. uma gritaria de primos e bruxas escalava o vento escalpelava a tempestade pedaços de romã podre no bolor e charco do tanque. o pai conduzia a festa como um barqueiro puxando peixes mortos nós os irmãos jogávamos no fogo dentaduras pétalas tranças fotografias cuspes aniversários e sempre uma canção só cal e ossos a mãe de nuvem parindo orquídeas no cimento. * Afonso Henriques Neto

A palavra território*

Existe um lugar_esconderijo diante de cada possibilidade. Nele as singularidades deixam entrever vontades, ensaios, buscas. Com os termos agendados descrevem um ser determinado. Desse endereço de onde exercita-se existencialmente, a pessoa elabora rituais, se apropria de atitudes, pensamentos, indica regiões da subjetividade, propõe uma gerencia para manutenção de seu entorno.   Ao localizar existencialmente esse vislumbre de um chão por traduzir, o sujeito, em seus desdobramentos cotidianos, refere a expressividade como chave de acesso à essa intimidade, nem sempre acessível diretamente. Seu teor concede a duração possível para ser esboço. As possibilidades da linguagem derivam do contexto onde a pessoa vivencia seus dias e noites.  Nessa geografia, impregnada de eventos nem sempre localizáveis, é possível visualizar fronteiras, descobrir um continente a se mover. Assim a realidade se institui, significa-se, desdobra-se em deslocamentos imprevisíveis. Seu aparecer inédito,

Bem no fundo*

No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela — silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos a passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas. *Paulo Leminski

Num passe de mágica*

Amar nos ajuda a compreender palavras e silêncios; momentos e atitudes. E isso, nos convoca a perceber que por teimosia da precariedade da observação, às vezes, podemos dar passos dissonantes, mesmo estando dentro de caminhos repletos de boas consonantes, que surgiram tão somente para nos promover e libertar. E podemos sim, deixar passar ou abraçar oportunidades que nunca virão ao acaso nos convidando à transcendência ora lado a lado, ora a quatro mãos. Porventura, o mais sábio a fazer possa mesmo ser começar agora, de onde estivermos, na condição que estivermos, simplesmente fazendo o melhor que pudermos, sem desmerecer o cuidado com o nosso coração para que o amor e a paz nos faça transbordar e florescer em dias lindos. Na verdade, quando transcendemos pelo menos uma vez, instantaneamente, como num passe de mágica, percebemos que julgar o outro nunca o definirá, mas sempre servirá para revelar a verdadeira face do opressor. Enfim, um grande segredo para sermos felizes, condiz co

Fenomenologia de fragmentos*

“A utopia é o campo do desejo, diante da Política, que é o campo da necessidade.” Roland Barthes A irreverência de Nietzsche, em fazer a transvaloração de todos os valores levou o filósofo a transbordar o século XX com aforismos, e um estilo de pensar sem as rédeas da cavalaria oficial do pensamento racionalista. A idiossincrasia do pensador, dado à polêmicas, foi o que estigmatizou-o, porém seu estilo é uma nova forma de pensar a realidade. Atrevidamente sempre atentou contra a moral. No Crepúsculo dos Ídolos, o pensador ataca: "Se nós, os imoralistas, causamos dano à virtude? Tanto quanto os anarquistas o fazem aos príncipes. Só depois que se atira contra eles é que eles voltam a estar firmemente assentados em seu trono. Moral da história: é preciso atirar contra a moral." É preciso passar da lógica cartesiana, aristotélica para uma nova forma de pensar a cultura. Michel Maffesoli, herdeiro do pensamento fenomenológico e da sociologia

Um brinde...*

Sou assim. Espontâneo demais. Não consigo observar algumas normas. Ou seguir etiquetas. Parece-me que tudo pode ser inventado. Criado de maneiras diferentes.Pago, às vezes, por isso. Não faz mal. Sorrio. Tento passar adiante. Emendo bobagens... Saímos algumas vezes. Para tomar um vinho. E comer um peixe. Erro sempre no brinde. Ela me diz , delicadamente: "Zé, não é assim que se brinda". Já tentei. Algo em mim não quer aprender, Digo-lhe: "Mas é assim que eu faço". Brindamos novamente. Perco-me na taça. Atrapalho-me nos gestos. Sou assim. Ela é que não me entende.E me fala: " Zé, olhe para a taça e beba". E eu olho para ela. Para não perder seus olhinhos. Ela não me entende. Parece fazer força para não me entender. E eu força para não ser entendido. É que eu quero repetir o brinde. Para prolongar o encontro. E não consigo dizê-lo para ela. Ela não me entenderia. E sorri. E sorrimos. Olho em seus olhinhos. tento dizer com os meus:
Comunicado Oficial: A Casa da Filosofia Clínica, fora do RS, coordena há 19 anos, sob a liderança de Hélio Strassburger, profs. adjuntos e convidados, vários pólos da Formação em Filosofia Clínica no país. Já são milhares de profissionais formados em todo o território nacional. Recentemente, tivemos denúncias de que pessoas estranhas ao nosso meio, estariam 'abrindo turmas' em algumas dessas cidades.  Se isso estiver acontecendo, pedimos aos interessados que busquem saber mais sobre a instituição que patrocina tais eventos, quem são os responsáveis, a trajetória e a qualificação dos referidos professores.   Esta Coordenação de Ensino e Pesquisa, preocupada em manter a lisura e a transparência dos Centros de Formação onde atua, confirma inexistir autorização para o funcionamento desses 'cursos', sob a orientação desta Casa.  A firma está reconhecida na forma da legislação.    Atenciosamente Coordenação de Ensino e Pesquisa Casa da Filosofia Clínica

Disso que vivo*

A gente vai envelhecendo As inutilidades pulsando E, a gente acha tempo Pra brincar de ser poeta Os cabelos embranquecidos Cintura alargada Fios de ruga enfeitando olho Vai a gente por este mundo Ora besta, ora pequeno Nada fazendo No ócio deleitando Vai criando jeito de ampliar A vida desconjuntada Contando casos Rabiscando sonhos Pedindo licença aos anjos Para voar em suas asas E,feliz ir Brincando de ser criança outra vez. Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poetisa, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

As palavras iniciais*

As expressões preliminares possuem um teor de anúncio de incertezas. Sua linguagem cifrada, em um discurso incomum, abre espaço, compartilha desafogo, reapresenta as formas do indizível. De antemão, se tem um imenso nada a se mostrar na crise desconstrutiva pessoal.  Essas palavras desarticuladas realçam um caos subjetivo em ação. Nesses conteúdos de rascunho, já se pode vislumbrar endereços existenciais, descrever a novidade chegando. Por esse começo é possível investigar o mundo das vontades, das representações. Nos ditos de assunto imediato, nem sempre confirmados no discurso posterior, os relatos oscilam em busca de legitimidade. A partir desse acolhimento se pode qualificar a relação clínica, regular o ângulo da visão, ajustar a lógica desse encontro singular.      O teor de con_fusão entre o passado e o agora passando, além de traduzir um viés im_paciente, proporciona atenção à esse sujeito em estado nascente. Após essa antítese com as anterioridades, existe um lugar pa

Uma oração*

Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada.  Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias.  O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta.  A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou

Textos e Contextos: as múltiplas faces de uma leitura existencial da vida*

Há leituras que nos aproximam de nós mesmos, e há aquelas que nos distanciam. Nossas lentes da alma se adaptam melhor aos contextos que nos ajudam a ver a vida com menor grau de miopia. Vivemos em busca de olhares que veem o mundo a partir das perspectivas de nosso ser. Talvez seja por isso que não digerimos aquela música, ou aquele autor. Por mais profundo e sensível que alguém seja, ele somente atingirá a raiz de nossa alma se aproximar-se da leitura que fazemos da vida.  Há tempos tenho pensando sobre as múltiplas leituras que fazemos da vida. Em cada contexto existencial da vida nos adaptaremos a quem escreve os silêncios de nossa alma com a sensibilidade que enxergamos a vida. Talvez encontremos aqueles que questionem tal posicionamento. No entanto quando encontramos tais contestadores, eles já estão impregnados de leituras que se adaptem ao seu contexto emocional. O simples fato de não concordarem com essa premissa revela que eles próprios também buscam leituras existênci

A arte indomesticada - garantia de sanidade*

Absolutamente não é preciso, nem ao menos desejado, tomar partido em meu favor: ao contrário, uma dose de curiosidade, como diante de uma excrescência estranha, com uma resistência irônica, me pareceria uma postura incomparavelmente inteligente.                  Friedrich Nietzsche Nietzsche afirma que: como fenômeno estético, a existência é sempre para nós, suportável ainda. Inúmeras vezes, a desgraça do indivíduo se torna a sua redenção; ele não sabe exatamente, nem como nem porquê; porém, a inquietação que o mobiliza, pode  conduzi-lo, em sua existência errante, à expressão dos tormentos interiores que o consomem, através da arte. O que é a arte? Qual o sentido da existência? A existência como propósito da arte, a arte como necessária proteção da existência. A arte de criar e parir a si mesmo como obra de arte. Urge desconstruir imagens, colocando um quinhão de criatividade em nosso algoritmo. Expressar a profunda aflição que remexe nossas entranhas, numa tentat
www.casadafilosofiaclinica.blogspot.com O ano todo com você!        Comunicado:      A Coordenação de Ensino e Pesquisa da Casa da Filosofia Clínica informa que, no período de 10/11 à 10/12/2014, estarão abertas as inscrições para recebimento de propostas de parceria para aulas, estágios, supervisão, publicações, atendimentos, referentes ao período de 2015, em todo o território nacional. Interessados, por favor, contatar:  casadafilosofiaclinica@gmail.com      Atenciosamente,      Coordenação de Ensino e Pesquisa

Os Poemas*

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem.  E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti… *Mário Quintana

Buscas*

Ainda escreverei meu livrinho. Acreditem. Vou ainda escrever meu livro. Ou meu livrinho. Me darei por satisfeito se uma pessoa só o ler. Ou eu mesmo o lerei para mim. Tempos depois. Ou poderá ficar guardado. Para algum momento incerto. Estive pensando no título. Acho que será assim ó: "Espelho Estilhaçado". Quebrado. Partido. Pedacinhos recolhidos. Da vida. Cacos colhidos e ajuntados. Da vida. Pelos cantinhos do viver. Da vida aos pedacinhos. Fascina-me remontar pedacinhos de vida. Parece-me que a vida não é um bloco só. Único. Seguro. Fechado. A vida não se espelha num espelho sempre inteiro. Surpreende-nos partindo-se em pedacinhos. Passamos grande parte da vida tentando colar nossas partes que se estilhaçam de nós mesmos. E é bom que seja assim. Mais ou menos inteiros, ou em pedacinhos ... Assim me desmonto e remonto dia após dia. Nunca me sentindo por inteiro. Nem, tampouco, pequeno demais. Ofereço-me ao mundo e aos outros em forma de pedacinhos. E qu

O Homem e o Mar*

Homem livre, o oceano é um espelho fulgente Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado, Como em puro cristal, contemplas, retratado, Teu íntimo sentir, teu coração ardente. Gostas de te banhar na tua própria imagem. Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos, As queixas que ele diz em mística linguagem. Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos; Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos, Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos; Os segredos guardais, avaros, receosos! E há séculos mil, séc'ulos inumeráveis, Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem, De tal modo gostais n'uma luta selvagem, Eternos lutador's ó irmãos implacáveis! *Charles Baudelaire

Cadernos da Primavera II*

“Aquele que escolhe vê-se livre em sua escolha. Ele pode até mesmo arrepender-se dela e ele demonstra de todas as maneiras que ele assume sobre os ombros os seus próprios atos.”                                                                                                                 Hans-Georg Gadamer A razão ocidental de tradição aristotélica e kantiana teve um grande revés ao longo da modernidade no século XX e no que se inicia, no século XXI; e, hoje, demonstra sua força contra aquilo que ela mesmo criou e cuidou com zelo quase moral, a saber, endureceu sua lógica em nome da unidade, destruiu os argumentos que se voltavam contra o silogismo.  O que vemos já um bom tempo desde o tiro certeiro no método e na razão é o raciocínio anapodítico como hábito no cotidiano beirando a legitimar a razão de “cachorro louco”, já dizia um amigo meu analítico, um ex-amigo por conta da razão absoluta dele. Como a razão nunca teve um dono, como ela nunca foi uma casa que se ent

Purpurinas*

Livre voo Voo livre Fresta Entre meus mundos Na hora da interrogação Lá vou Vou para lá O eterno dança Não mais estou Sou Ventania Dissolvida no Efêmero de luz Purpurina *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora, Poetisa Juiz de Fora/MG

Fragmentos poéticos, filosóficos, delirantes*

(...) Estão todas as verdades à espera em todas as coisas: não apressam o próprio nascimento nem a ele se opõem, não carecem do fórceps do obstetra, e para mim a menos significante é grande como todas. (Que pode haver de maior ou menor que um toque ?) (...) Tenho dito que a alma não é mais do que o corpo e tenho dito que o corpo não é mais do que a alma, e que nada, nem Deus, para ninguém é mais do que a própria pessoa, (...) Imaginavam que não pudesse existir mais de um ser supremo ? De seres supremos pode existir qualquer número - um não exime outro ou tampouco uma vida exime outra. Tudo é elegível por todos, tudo por todos os indivíduos, tudo por ti: nenhuma condição é proibida, nem a Deus nem outra qualquer. (...) *Walt Whitman

Insubstituível*

 “Ninguém é insubstituível”. Esta é uma pequena frase usada de forma contínua em organizações com o intuito de dizer a uma pessoa que ela tem de se esforçar antes que seja substituída por outra. Há, no entanto, o outro lado desta moeda. Ao contratar um funcionário, uma organização está contratando quem? Uma pessoa ou um profissional? Esta é a questão que vai dizer se alguém é ou não substituível em uma organização. Essa diferenciação pode ser feita, em Filosofia Clínica, falando de dois conceitos: Singularidade e Papel existencial. O primeiro termo, Singularidade, diz que cada pessoa é única, exclusiva. Pode parecer que esta afirmação é de entendimento comum, o que não é verdade. Diariamente são veiculados nos mais diversos meios de comunicação conceitos sobre como as pessoas são. Assim, aos poucos se acredita que todas as pessoas amam, que todos querem ser felizes, que o sucesso é perseguido por todos, que “todo mundo um dia ama, todo mundo um dia chora”. Não é verdade. Cada

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