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A arte indomesticada - garantia de sanidade*


Absolutamente não é preciso, nem ao menos desejado, tomar partido em meu favor: ao contrário, uma dose de curiosidade, como diante de uma excrescência estranha, com uma resistência irônica, me pareceria uma postura incomparavelmente inteligente.
                 Friedrich Nietzsche


Nietzsche afirma que: como fenômeno estético, a existência é sempre para nós, suportável ainda. Inúmeras vezes, a desgraça do indivíduo se torna a sua redenção; ele não sabe exatamente, nem como nem porquê; porém, a inquietação que o mobiliza, pode  conduzi-lo, em sua existência errante, à expressão dos tormentos interiores que o consomem, através da arte.

O que é a arte? Qual o sentido da existência? A existência como propósito da arte, a arte como necessária proteção da existência. A arte de criar e parir a si mesmo como obra de arte.

Urge desconstruir imagens, colocando um quinhão de criatividade em nosso algoritmo. Expressar a profunda aflição que remexe nossas entranhas, numa tentativa desesperada de traçar e ordenar as ideias, dando vida aos fantasmas que nos habitam e que assombram nossas noites insones.

A inquietação que nos imobiliza é a mesma matéria que nos impulsiona. Pois, parafraseando Nietzsche: Só como fenômeno estético à existência e o mundo aparecem eternamente justificados.

Nosso desafio consiste em dar luz a essas partes obscuras de nosso ser, onde o conhecimento cego de nosso infortúnio não cabe mais em nossa existência e nem reflete a inquietação que muitas vezes nos envolve.

A arte é o caminho para que possamos emergir desse caos mental, denso e sufocante ao qual nos encontramos. Remexer nossas dores, arrancando do fundo de nosso ser a inspiração contida e trancada dentro d’alma. Urge que juntemos os cacos e que nos reconstruamos com alguma filosofia e criatividade.

Nossa tarefa consiste em sermos o mestre e o escultor de nós mesmos, utilizando as técnicas do artista e, principalmente as do poeta que subjazem  em nosso interior; despertando nossa voz interior para escrever uma nova história, um novo papel existencial.

A imagem é a expressão autêntica, a linguagem própria do inconsciente e como tal, constitui o elo entre nossos mundos interno e externo, onde a vida que pulsa nos emociona, revelando  e desvelando  a  majestosa totalidade que engrandece a existência.

A arte, ao lembrar ao indivíduo, sua condição de criador, excede e transborda uma constituição que se revela e se extravasa no universo das imagens, acresce sentido à existência, torna-se um estimulante para a própria vida. É a embriaguez de viver; a arte como uma  função orgânica.

Nossa sabedoria consiste em percebermos por meio de nosso instinto estético as consequências longínquas e, não se encerrar, por miopia, somente na contemplação das coisas próximas. Propomos esse olhar, para novas, surpreendentes e emocionantes descobertas.

*Mariah de Olivieri
Filósofa, Mestre em Filosofia, Artista Plástica, Poetisa, Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS

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