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Insubstituível*


 “Ninguém é insubstituível”. Esta é uma pequena frase usada de forma contínua em organizações com o intuito de dizer a uma pessoa que ela tem de se esforçar antes que seja substituída por outra. Há, no entanto, o outro lado desta moeda. Ao contratar um funcionário, uma organização está contratando quem? Uma pessoa ou um profissional? Esta é a questão que vai dizer se alguém é ou não substituível em uma organização. Essa diferenciação pode ser feita, em Filosofia Clínica, falando de dois conceitos: Singularidade e Papel existencial.

O primeiro termo, Singularidade, diz que cada pessoa é única, exclusiva. Pode parecer que esta afirmação é de entendimento comum, o que não é verdade. Diariamente são veiculados nos mais diversos meios de comunicação conceitos sobre como as pessoas são. Assim, aos poucos se acredita que todas as pessoas amam, que todos querem ser felizes, que o sucesso é perseguido por todos, que “todo mundo um dia ama, todo mundo um dia chora”. Não é verdade. Cada ser humano é simplesmente único. As pessoas não são computadores com programas que funcionam ou não de maneira adequada. Cada pessoa construiu ao longo da vida, bem ou mal, certo ou errado, o seu jeito de ser, a sua maneira de funcionar, e isso faz com que ela seja Singular.

Já Papel existencial fala dos diversos personagens que vivemos ao longo da vida. São os papeis assumidos por nós mesmos. Por isso, ter uma esposa e filhos não faz de você marido e pai, mas assumir o papel de esposo e pai faz com que de fato o seja. Cada um dos papeis que vivemos são atribuições que se assume, e em alguns destes papeis se tem maior êxito do que em outros. Como se diz: “Ninguém é perfeito”. Na organização onde você trabalha, assim como em casa, pode ter um papel, lembrando que você somente tem o papel se assumi-lo. Se você tem escrito no seu crachá o nome Gerente, mas não assumiu para si o personagem de Gerente, pode continuar sendo vendedor que recebeu mais atribuições. Neste caso continua sendo um vendedor.

O termo Singularidade mostra que cada ser é único em si, simplesmente incomparável ou insubstituível. Diferente da pessoa o Papel existencial é um personagem que pode ser vivido de acordo com as atribuições que se tem. Como personagem todos podem ser substituídos, desde o personagem de pai até o personagem de Gerente, em todos os casos um outro pode assumir o papel. Nos papeis vividos cada um tem seu jeito de fazer, mas isso não muda o fato de que aquele é apenas um personagem. Até mesmo o proprietário da organização pode ser substituído enquanto proprietário.

Em uma organização as pessoas são insubstituíveis tanto quanto em uma família, em um grupo de amigos. Enquanto pessoa não há e jamais haverá alguém que seja igual a você, e este é um dos problemas de organizações que contratam pessoas e precisam substituir pessoas. São muitos os casos em que o proprietário da organização é uma pessoa e estabelece interseções com as pessoas com quem trabalha e não desenvolve o papel existencial de gestor da organização. Em dado momento da vida sente que é hora de parar, começar seu processo de sucessão. São raros os casos em que este tipo de sucessão acontece com sucesso, pois aqueles que o sucessor irá liderar esperam um substituto para a pessoa, que é insubstituível.

Não se nega a possibilidade e a necessidade de interseções entre as pessoas no ambiente de trabalho, mas se afirma a necessidade da estruturação dos papeis existenciais. Com base nos papeis existenciais as pessoas podem ser preservadas. Haverá o entendimento de que alguns são ótimas pessoas, mas não se deram bem como gestores. Assim uma pessoa pode olhar a si mesmo como alguém que não teve sucesso em um papel, mas que pode ter sucesso em algum outro papel ao longo da vida. Personagens são substituíveis, pessoas não.

Rosemiro A. Sefstrom
Filósofo Clínico
Criciúma/SC

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