Sou assim. Espontâneo
demais. Não consigo observar algumas normas. Ou seguir etiquetas. Parece-me que
tudo pode ser inventado. Criado de maneiras diferentes.Pago, às vezes, por
isso. Não faz mal. Sorrio. Tento passar adiante. Emendo bobagens...
Saímos algumas vezes.
Para tomar um vinho. E comer um peixe. Erro sempre no brinde. Ela me diz ,
delicadamente:
"Zé, não é assim
que se brinda".
Já tentei. Algo em mim
não quer aprender, Digo-lhe:
"Mas é assim que
eu faço".
Brindamos novamente.
Perco-me na taça. Atrapalho-me nos gestos. Sou assim. Ela é que não me
entende.E me fala:
" Zé, olhe para a
taça e beba".
E eu olho para ela.
Para não perder seus olhinhos. Ela não me entende. Parece fazer força para não
me entender. E eu força para não ser entendido. É que eu quero repetir o
brinde. Para prolongar o encontro. E não consigo dizê-lo para ela. Ela não me
entenderia. E sorri. E sorrimos. Olho em seus olhinhos. tento dizer com os
meus:
"Não foi por mal.
É que eu faço assim."
Tento ainda de várias
formas , Dizer-lhe: Você também é assim. Assim como você é. E eu faço um
esforço danado para entender. Ou quando não dá, silencio. Também do meu jeito.
Um silêncio profundo. Vazio, mas cheio. Quase desisto.
Então ficamos assim. Às
vezes não saímos do lugar. Outras vamos longe demais. Nos perdemos nas taças. E
em lugares longínquos. Eu falo-lhe tudo da minha vida. Para mim parece-me tão
pouco. E tão simples. Para ela eu não sei....
Uma vez mais,
olhamo-nos nos olhos. Digo-lhe:
"Deixa eu ser o
seu anjo da guarda?"
E ela diz:
"Zé, você não
existe"
Eu fico em dúvida e
toco em mim. Como a certificar-me da minha existência. Será que as pessoas me
vêem?
Digo-lhe:
"Mas eu estou
aqui." Toco ainda em sua mãozinha. Pequena e delicada. Silencio. Já não me
atrevo a mais...
Será que ela me
entende?...
*José Mayer
Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS
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