o tio cuspia pardais de
cinco em cinco minutos.
esta grama de lágrimas
forrando a alma inteira
(conforme se diz da
jaula de nervos)
recebe os macios passos
de toda a família
na casa evaporada
mais os vazios passos
de ela própria menina.
a avó puxava linhas de
cor de dentro dos olhos.
uma gritaria de primos
e bruxas escalava o vento
escalpelava a
tempestade
pedaços de romã podre
no bolor e charco do
tanque.
o pai conduzia a festa
como um barqueiro
puxando peixes mortos
nós
os irmãos
jogávamos no fogo
dentaduras pétalas
tranças
fotografias cuspes
aniversários
e sempre
uma canção
só cal e ossos
a mãe de nuvem parindo
orquídeas no cimento.
* Afonso Henriques Neto
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