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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Sobre Singularidades*

Com licença, amigos. Eu enxergo "coisas". "Coisas" , assim meio malucas. E que os outros não enxergam. Mas, você diria: - Ah, mas todos nós enxergamos "coisas", que os outros não enxergam. Sim. sim. assim realmente é. Gosto de pensar "coisas" complexas e complicadas. Para depois simplificá-las. Sou um privilegiado: é que eu convivi dia e noite, com uma pessoa querida, e que pela medicina tradicional apresentava sintomas de esquizofrenia. Creiam-me: como aprendi com a minha amada!!! Desde momentos de desespero, no início, quando não sabia o que fazer. Até momentos que conseguíamos compartilhar nossas fantasias. As dela e as minhas.Umas mais significativas que as outras. E conversávamos e ríamos sobre nossos mundos encantados. Aprendemos, eu e ela, a visitar o mundinho um do outro.... Creiam-me, uma vez mais: Como aprendi "coisas" com a minha amada!!! Agora compreendo um pouquinho melhor. Acompanho aulas de Filosofia

Felicidade Neurótica*

(...) - Não te assustes, continuo a ser a mesma velha Madeline.  Ouve o que encontrei hoje na biblioteca, quando estava a ler os jornais.  Escuta. - Tirou um pedaço de papel da algibeira do jeans. - Copiei de um jornal. Palavra por palavra. Journal of Medical Ethics. «Propõe-se que a felicidade » - levantou os olhos do papel e esclareceu: - o itálico na felicidade é deles - «Propõe-se que a felicidade seja classificada como perturbação psiquiátrica e incluída em futuras edições dos manuais de diagnóstico especializados sob a nova designação de importante perturbação afetiva, do tipo agradável.  Numa resenha da literatura relevante está demonstrado que a felicidade é estatisticamente anormal, consiste num discreto aglomerado de sintomas. Está associada a uma ordem de anomalias cognitivas e provavelmente reflete o funcionamento anormal do sistema nervoso central. Persiste uma possível objeção a esta proposta: a de que a felicidade não é avaliada negativamente. No entanto,

Magia, loucura, poesia*

Nem sei o que pensar somos todos dementes e nossa loucura tem suas magias. há um mundo de possibilidades ah! nadar no oceano de livros decifrar Enigmas mil portas abertas mistérios a serem desvelados matemáticas e filosofias psicanálise e alquimias herméticos construímos caminhos de pedras é possível jogar xadrez no túnel do kairos E,enlouquecer em Roma de amor *Rosangela Rossi Psicoterapeuta Analítica, Escritora, Poetisa, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Aprender a Ver*

Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam.  Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo a-filosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos.  Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza a-filosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir. — Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral, chega

Médicos e detetives***

O diagnóstico de uma doença é como uma tarefa sherlockiana. Cada paciente fornece uma série de sinais e sintomas exclusivos, que precisam ser interpretados para se chegar a um diagnóstico.  O paciente vai contando uma história, mostrando algumas pistas, deixando alguns sinais, para que sejam investigados. Cada caso é um caso.   O médico vai sendo desafiado todo instante a entrar no mundo do paciente e conhecê-lo. Pode perceber, por exemplo, que a dor referida não coincide com o local da lesão, que não existe ferida alguma que justifique aquele pranto ou dor, que a chaga se apossou do paciente, mas a causa está na família, que os sinais e sintomas direcionam para o lado oposto da história relatada, que não é a morte o maior medo do paciente, que não é a doença o motivo do sofrimento. Como decifrar estes enigmas? Ao entrar realmente no mundo do outro, identificando-se com seu modo singular de viver, não se volta o mesmo. Volta-se com todas as experiências adquiridas. Alguns

Respeite a você mais do que aos outros*

Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (...) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias.  (...) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (...) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação...  Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (...)  Uma amiga, um dia desses, e

A palavra conjectura*

Um pouco antes das novas conjugações existenciais, existe um período onde se rascunham estimativas, elencam suposições, roteirizam probabilidades. Nesse espaço de ensaio, insegurança, dúvida, desenvolve-se uma poética da insuficiência, por onde as incompletudes perseguem ânimos de experimentação.  Assim permite a aproximação com um lugar estranho, de onde nascem categorias, verdades, suspeitas. Sua essência, de querer ser, aponta regiões inexploradas para si mesma. Talvez seu maior desafio, seja superar a incompreensão da pluralidade do que vai aparecendo, os agendamentos e repercussões no mundo dos outros.    Esse procedimento reivindica uma disposição do sujeito para extrapolar seus limites existenciais. Aqui os sobrevoos são insuficientes. É necessário um mergulho atento, circunstanciado, pelas possibilidades do horizonte singular.  A frequência devaneio, ao surpreender-se por algum ideal de natureza intuitiva, dependendo da estrutura de pensamento onde atua, pode emanc

A Grande Literatura*

Os romances nunca serão totalmente imaginários nem totalmente reais. Ler um romance é confrontar-se tanto com a imaginação do autor quanto com o mundo real cuja superfície arranhamos com uma curiosidade tão inquieta. Quando nos refugiamos num canto, nos deitamos numa cama, nos estendemos num divã com um romance nas mãos, a nossa imaginação passa o tempo a navegar entre o mundo daquele romance e o mundo no qual ainda vivemos. O romance nas nossas mãos pode-nos levar a um outro mundo onde nunca estivemos, que nunca vimos ou de que nunca tivemos notícia. Ou pode-nos levar até às profundezas ocultas de um personagem que, na superfície, parece-se às pessoas que conhecemos melhor. Estou a chamar a atenção para cada uma dessas possibilidades isoladas porque há uma visão que acalento, de tempos a tempos, que abarca os dois extremos. Às vezes tento conjurar, um a um, uma multidão de leitores recolhidos num canto e aninhados nas suas poltronas com um romance nas mãos; e também tento

A Filosofia Clínica na minha vida...*

Andei questionando que papel o estudo da filosofia clínica tem cumprido em minha vida e cheguei a inúmeras conclusões. Sou habilitada para a pesquisa dentro da filosofia clínica pois ainda não conclui meu pré-estágio terapêutico. Aliás, não tenho pressa em continuar, tendo em vista, os ganhos que tive com esse estudo. A filosofia clínica abriu meu conhecimento de mim mesma. E creio que esse deva ser o primeiro passo para as pessoas que pretendem atender outras pessoas. Antes da filosofia clínica em minha vida eu escrevia e simplesmente detestava tudo o que escrevia. Mas, sempre gostei de me expressar pela escrita. Meu professor e filósofo clínico Hélio percebeu isso, essa minha singularidade. Eu não só fui incentivada por esse mestre-amigo, mas também, fui descoberta como um ser que necessita  expurgar pela escrita as dúvidas da existência e as dores de existir. Desagendei muito durante meu processo. Cresci como ser humano, me desnudei de complexos e recatos. Sou mais coer

O Perigo do Especialista*

O especialista serve-nos para concretizar energicamente a espécie e fazer ver todo o radicalismo da sua novidade. Porque outrora os homens podiam dividir-se, simplesmente, em sábios e ignorantes, em mais ou menos sábios e mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser submetido a nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio, porque ignora formalmente o que não entra na sua especialidade; mas tampouco é um ignorante, porque é «um homem de ciência» e conhece muito bem a sua fracção de universo. Devemos dizer que é um sábio ignorante, coisa sobremodo grave, pois significa que é um senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a petulância de quem na sua questão especial é um sábio. E, com efeito, este é o comportamento do especialista. Em política, em arte, nos usos sociais, nas outras ciências tomará posições de primitivo, e ignorantíssimo; mas tomará essas posições com energia e suficiência, sem admitir – e isto é o p

Estórias de livreiro*

Choveu naquele dia. O dia inteiro. Gilberto era o seu nome. Profissão: leitor. Ele era assim, meio esquisito.Vivia de ler. E parecia ler o que lhe fazia bem. Ou não. Não sei....Percebia-se isso no seu jeito de andar. E no seu jeito de falar.  Naquele dia falou-me de um livro que estava lendo: As Aventuras do Bom Soldado Svejk. Observou categórico, mas sereno: - Mas isto, Zé, é um livro que precisa ser lido no inverno.... Está bem... Em algumas situações meu pensamento voa rápido. Selecionei já, em minha cabeça os livros para serem lidos no verão. E aqueles para serem lidos no inverno. Outros para serem lidos na primavera. Ainda aqueles que só poderiam ser lidos no outono. Disse-me ainda: - Uma vez quis defender esta tese: os livros necessitam ser lidos de acordo com as estações do ano. Tinha razão meu amigo. Concordei com a cabeça. É, faz sentido.... Pensei comigo: Existiriam, certamente, também os livros para serem lidos conforme as estações da alma.

Meu problema não era a comida*

Hoje não acordei bem. Senti um aperto na altura do estômago, uma sensação de saciedade e uma preguiça daquelas que nos aprisionam na cama. Olhei o relógio e vi que passavam das nove, mas não tinha a menor vontade de levantar. Queria mesmo era voltar a dormir pra ver se acordava melhor. Não consegui. O pessoal que trabalha na pousada já estava circulando pelo corredor, especialmente dona Maria, que enquanto limpa os quartos, cantarola muito alto e faz alguns barulhos que me atrapalham o sono. Além disso, fiquei pensando o que poderia ter causado aquele mal estar. Rolava na cama de um lado para outro enquanto tentava lembrar o que comera no dia anterior. A noite havia sido ótima, não exagerei na comida nem na bebida. A única coisa diferente foi aquele vinho verde português servido durante o jantar. Tão logo vi aquele liquido verde na taça, estranhei a cor. O garçom percebeu minha estranheza mas foi esperto e atencioso. Rapidamente saiu explicando como era a fabricação e

O Presente Inexistente*

Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso; ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence; e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste.  É que o presente, em geral, fere-nos. Escondemo-lo à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar. Examine cada um os seus pensamentos, e há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-n

Quando não penso*

Não me preocupo com rima e métrica sigo meu coração e alma brinco de ser poeta não me segurem e me ditem regras escrevo como quero sem perder meu Eros Apolo que me perdoe Dioniso eu sigo é quando não penso que a poesia me brota não faço esforço brinco com as palavras e me lambuzo de inspiração esvazio meus pantanais *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poetiza, Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

Que Todos os Dias Sejam Dias de Amor*

João Brandão pergunta, propõe e decreta: Se há o Dia dos Namorados, por que não haver o Dia dos Amorosos, o Dia dos Amadores, o Dia dos Amantes? Com todo o fogo desta última palavra, que circula entre o carnal e o sublime? E o Dia dos Amantes Exemplares e o Dia dos Amantes Platônicos, que também são exemplares à sua maneira, e dizem até que mais? Por que não instituir, ó psicólogos, ó sociólogos, ó lojistas e publicitários, o Dia do Amor? O Dia de Fazê-lo, o Dia de Agradecer-lhe, o de Meditá-lo em tudo que encerra de mistério e grandeza, o Dia de Amá-lo? Pois o Amor se desperdiça ou é incompreendido até por aqueles que amam e não sabem, pobrezinhos, como é essencial amar o Amor. E mais o Dia do Amor Tranqüilo, tão raro e vestido de linho alvo, o Dia do Amor Violento, o Dia do Amor Que Não Ousava Dizer o Seu Nome Mas Agora Ousa, na arrebentação geral do século? Amor Complicado pede o seu Dia, não para tornar-se pedestre, mas para requintar em sua complicação cheia

Filosofia no cotidiano!*

Filosofia no Cotidiano parece ser uma frase paradoxal, pois filosofia e cotidiano não parecem fazer parte da mesma ideia. Filosofia é exatamente aquilo que não se faz no cotidiano. Filosofia no sentido de um exercício de pensamento radical, e radical em dois sentidos: no de ir até a raiz das questões e no sentido de sair do centro e passar a radial que delimita o círculo. Ou seja, um exercício de pensamento que é excêntrico e extra-ordinário.  E cotidiano é exatamente aquilo que é lugar-comum, ordinário, mais-do-mesmo, “mesmice”, enraizador e não radical. A proposta, então, de uma filosofia no cotidiano é, dentro do ordinário e do mais-do-mesmo, plantar uma semente de pensamento radical para pensar com crítica aquilo que é dado como certo, natural e irretocável.  Dentro desse espaço que é o cotidiano, há emoções, mas não são suficientes para que haja desacomodação. Pois cotidiano é acomodação, segurança. Há alegrias, mas não que nos exceda; há tristezas, mas não o suficien

O Desejo de Criar*

Diotima: Qual é, Sócrates, na sua opinião, a causa deste amor, deste desejo? Você já observou em que estranha crise se encontram todos os animais, os que voam e os que marcham, quando são tomados pelo desejo de procriar? Como ficam doentes e possuídos de desejo, primeiro no momento de se ligarem, depois, quando se torna necessário alimentar os filhos? (... ) Tanto no caso dos humanos como no dos animais, a natureza mortal busca, na medida do possível, perpetuar-se e imortalizar-se. Apenas desse modo, por meio da procriação, a natureza mortal é capaz da imortalidade, deixando sempre um jovem no lugar do velho.  [... ] Pois saiba, Sócrates, que o mesmo vale para a ambição dos homens. Você ficará assombrado com a sua misteriosa irracionalidade, a não ser que compreenda o que eu disse, e reflita sobre o que se passa com eles quando são tomados pela ambição e pelo desejo de glória eterna. É pela fama, mais ainda que pelos seus filhos, que eles se dispõem a encarar todos os riscos, su

A palavra inesperada*

Uma suspeita de imensidão aprecia os deslizes da palavra refugiada na palavra. Ponto de fuga em subterfúgios de especulação, ao exibir renúncias de ser previsível, amplia o mundo das possibilidades.       A admissão compreensiva desses desvãos se oferece no acolhimento de um talvez. Uma de suas características é o descompromisso em sustentar verdades a qualquer preço. Seu estado de espírito sobressaltado, qualifica deslocamentos pela arquitetura subjetiva de um mundo fatiado. Aqui o vislumbre repentino das pequenas coisas permite o acesso as zonas de exclusão.    Por esses episódios a perder de vista, um teor extemporâneo pode desconstruir as fronteiras conhecidas. Seu saber ameaça os fundamentos conhecidos daquilo que se tinha definitivo. Nesse viés de aparência deslocada anuncia novos horizontes, esparrama indícios de originalidade para se fazer ciência.   O discurso imprevisível onde ela se esboça, procura inseri-la num contexto de notícia compartilhável. Mesmo assim,

O Mapa*

Olho o mapa da cidade Como quem examinasse A anatomia de um corpo... (É nem que fosse o meu corpo!) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei... Há tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei (E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...) Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) E talvez de meu repouso... *Mário Quintana

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