O diagnóstico de uma
doença é como uma tarefa sherlockiana. Cada paciente fornece uma série de
sinais e sintomas exclusivos, que precisam ser interpretados para se chegar a
um diagnóstico. O paciente vai contando
uma história, mostrando algumas pistas, deixando alguns sinais, para que sejam
investigados. Cada caso é um caso.
O médico vai sendo
desafiado todo instante a entrar no mundo do paciente e conhecê-lo. Pode
perceber, por exemplo, que a dor referida não coincide com o local da lesão,
que não existe ferida alguma que justifique aquele pranto ou dor, que a chaga
se apossou do paciente, mas a causa está na família, que os sinais e sintomas
direcionam para o lado oposto da história relatada, que não é a morte o maior
medo do paciente, que não é a doença o motivo do sofrimento. Como decifrar
estes enigmas?
Ao entrar realmente no
mundo do outro, identificando-se com seu modo singular de viver, não se volta o
mesmo. Volta-se com todas as experiências adquiridas. Alguns médicos não
suportam esta pressão, preferem não se envolver e seguem sua carreira
diagnosticando e tratando seus pacientes de acordo com os compêndios e
classificações generalistas.
Outros, imbuídos do
paradoxo socrático (só sei que nada sei) e do estilo investigativo
sherlockiano, não se prendem ao mundo
das aparências e dos manuais: investigam, surpreendem-se, colocam-se no lugar
do outro, lutam e torcem por seus pacientes, que sentem e sabem não estar mais
sozinhos em suas jornadas. Desta forma, juntos, médico e paciente, passam a procurar
um final feliz. Nem sempre a cura, nem sempre um final, mas quase sempre a
busca do não sofrer.
*Um pedacinho de meu
novo livro. Ainda não disponível. Aviso quando do lançamento, provavelmente no
primeiro semestre 2015.
**Ildo Meyer
Médico, Escritor, Filósofo Clínico
Porto Alegre/RS
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