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A palavra número*



As possibilidades contidas na estrutura de pensamento, encontram, na palavra número, um viés especulativo sobre sua equação matriz. Um lugar para visualizar e descrever os diálogos, as fronteiras e transgressões da subjetividade.      

Os referenciais indicativos de quantidade, ao multiplicar, subtrair, dividir ingredientes estruturais, numa ordem descabida, recoloca a leitura singular como imprescindível. Assim a contagem histórica, ao conceder o padrão, o dado atual, a literalidade dessas variáveis, ensina a dialética de uma intimidade, em que pese seu aspecto de refém das lógicas do improviso.    

Ao tentar desvendar essas indicações, em cada página descrita, surgem novas questões, problemáticas. A partir daí, pela via da nova semiose: o número, menciona aquilo sem palavras para se dizer. As verdades surgem em conjecturas, cálculos, simbologias, tentam mensurar a natureza do transbordamento pessoal. 

Talvez se encontre, nessa questão, um modelo para compreender a pluralidade dos papéis existenciais, os desdobramentos da expressividade. Não é incomum encontrar um sujeito de 40 anos (certidão de nascimento) com as emoções cristalizadas nos 08, a epistemologia em 50, buscas nos 15 e pré-juízos em 100 anos. Desenvolvendo uma interseção curiosa com o meio (princípios de verdade) onde  exercita sua vida passando.    

Noutros casos, também se verificam pessoas, com o tópico sensorial congelado nos 10 anos de idade, representação de mundo nos 20 e forte agendamento de interseção de estrutura (pai, mãe, tios, avós...) fazendo a manutenção de pré-juízos em 60, axiologia em 30 e buscas em 70 anos, com a idade da certidão igual a 25. Nessa arquitetura subjetiva, é importante decifrar a qualidade dos deslocamentos internos,os ruídos, a relação dos aspectos determinantes entre si. 

Nesse sentido, uma estimativa dessa conversação íntima, pode conceder ao Filósofo Clínico, uma aproximação com as origens da movimentação existencial de cada um. O que pode e o que não deve ser conciliado, as desconstruções possíveis, surpresas, descobertas. Computar, com o chão dos exames categoriais, o território dos raciocínios convergentes, divergentes, as contradições, rupturas, esboçar as formas de uma coexistência duradoura. 
  
Assim se consegue entender uma mulher de 60, apaixonada e, num excelente relacionamento com um rapaz de 22, lidando bem com as idades do calendário normal ao dividí-las com seu companheiro, em que pese as influências do mundo ao seu redor. Um homem de 70 (idade atestada pelo cartório) pilotando sua motocicleta com amigos de 30 e namorada de 20, ou, ainda, um sujeito de 50 anos, diretor numa grande empresa, mostrar-se sisudo, frio, racional e de difícil convívio no cotidiano profissional, sendo alegre, comunicativo, expansivo, cedendo lugar aos outros de si mesmo em uma festa.

Os exemplos se multiplicam: razão, proporção, desproporção. No entanto, para decifrar a fonte dessas incontáveis verdades, não basta classificar atitudes, diagnosticar representações, moldá-las aos limites do tipo legal (quando chegam as leis, o fenômeno há muito se foi!). Eis aí um saber que se pluraliza no chão de fábrica_consultório. Seu denominador incomum, conhecido como singularidade, aprecia deslembrar, conceder vida nova a tópicos desmerecidos, reinventar-se por inteiro na parte que lhe cabe. 
   
As feições de cada um, expressos por algum gesto, fisionomia ou atitude, podem indicar a idade aproximada, no instante onde a leitura acontece. Assim também, as cogitações e interseções da malha intelectiva, apreciam deixar rastros da idade tópica cristalizada ou em desenvolvimento. Lembranças de um lugar onde se chega arrumando as malas para partir. 

Nessa sinalização se busca abrir espaço, conceder a palavra a verdades, até então, irreconhecíveis. Ao se traduzir subtrações, excessos, é possível antever vontades, significar dialetos, expandir as fronteiras da lógica conhecível. Essa matemática, ao descrer nos labirintos indecifráveis, sugere emancipá-los no discurso da palavra número.  Talvez essa mão que nos escreve tenha algo mais a dizer.   

*Hélio Strassburger

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