Toda arte é uma forma
de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de
dizer – falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as
projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é a
literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o
drama. (...)
A palavra é, numa só
unidade, três coisas distintas – o sentido que tem, os sentidos que evoca, e o
ritmo que envolve esse sentido e estes sentidos.
(...) É por isto que o
mais claro dostextos começa, quando é aprofundado ou meditado por este ou
aquele, a abrir-se em divergência de íntimo sentido de um para outro; é que,
havendo acordo, em geral, quanto ao sentido direto ou primário da palavra,
começa a o não haver quanto aos sentidos indiretos ou secundários.
(...) A arte que vive
primordialmente do sentido direto da palavra chamar-se-á propriamente prosa,
sem mais nada; a que vive primordialmente dos sentidos indiretos da palavra –
do que a palavra contém, não do que simplesmente diz – chamar-se-á,
convenientemente literatura; a que vive primordialmente da projeção de tudo
isso no ritmo, com propriedade se chamará poesia.
(...) O poeta superior
diz o que efetivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta
inferior diz o que julga que deve sentir.
*Fernando Pessoas
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