Nossa sociedade tornou-se sinônimo de agitação; já não
encontramos tempo para mais nada. Desejamos que o dia tenha trinta horas,
porque as 24 horas que temos parecem poucas para tantas demandas próprias do
nosso cotidiano. Divorciamo-nos da paciência e hoje somos prisioneiros da
pressa. Buscamos o futuro sem viver o presente. Nas tramas da vida, os bordados
de nossa história são, por vezes, mal feitos e tortos.
A arte do bordado carrega em si um grande ensinamento para
nossa vida. Se o avesso do bordado estiver perfeito, o bordado também estará
perfeito. No entanto se o avesso do bordado estiver defeituoso, o bordado
também estará imperfeito, mesmo que, ao primeiro olhar, ela pareça bonito.
Muitos corações estão com o avesso mal acabado. Há linhas de
sentimentos soltas e nós de incompreensões mal arrematados. A princípio muitos
seres humanos apresentam-se perfeitos, mas basta um minuto a mais na companhia
destes “bordados” e descobrimos que ainda há muitas linhas soltas na alma
humana. A vida agitada impediu que eles arrematassem o que ainda estava
incompleto.
O bordado é um processo que tem o ritmo da paciência. Algumas
peças levam muito tempo para ficarem prontas e belas. E o tempo é fundamental
para quem se propõe a realizar um bom trabalho. O processo de vivenciar o tempo
é fundamental na vida de quem deseja que seu avesso seja arrematado com
perfeição. O fruto verde não amadurece antes do tempo que lhe cabe. Nossos
sentimentos precisam se reconciliar com as estações de nossa alma. Colher o que
ainda está verde prejudica o sabor das experiências maduras.
O avesso de muitas pessoas está desfigurado e mal cuidado. A
pressa e a busca por soluções imediatas têm prejudicado muitos na arte de se
fazerem humanos. Não existe bordado perfeito se as tramas e as linhas do avesso
de nossa alma estiverem mal arrematadas.
Na mitologia grega, Ariadne foi a heroína que deu a seu amado
um novelo de lã para que ele conseguisse sair com vida de um perigoso labirinto
– bastava seguir o fio para achar o caminho. Muitos precisam encontrar o fio da
sua vida para sair dos labirintos que os aprisionam. Seguir o fio da vida é nos
aventurarmos através dos labirintos de nosso avesso complexo e ainda não
terminado.
O que torna o bordado de nossa vida mal terminado é a pressa
em querermos ser aquilo que o tempo ainda não amadureceu. Os bordados de nossas
atitudes serão tão belos à medida que permitirmos que Deus arremate, no tempo
que Lhe cabe, o avesso de nossa alma. Nos bordados de nossas experiências
descobriremos que o avesso de nossa alma precisa de um cuidado que se chama
tempo.
*Pe Flávio Sobreiro
Escritor, Poeta, Estudante de Filosofia Clínica
Cambuí/MG
Escritor, Poeta, Estudante de Filosofia Clínica
Cambuí/MG
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