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Mostrando postagens de março, 2015

Olhos do viajante, recorte do pensamento*

“A alma jamais pensa sem fantasia.” Aristóteles Quão estúpidos são os homens que creem que a vida é só viver; a vida é, também, renuncia, é deixar de viver momentaneamente para se dedicar ao não vivido. Viver não é só gozar a vida, é tudo, até mesmo morrer para viver melhor outro dia após outros dias.  Andei pensando esses últimos dias, enquanto viajava, lia, via coisas novas, coisas que já tinha visto mas meus olhos renovados já passaram pela negação da vida, questionava ao total abandono de um absoluto nas imagens. Tudo parece novo, mesmo que já tenha visto, imagino o novo diante dos olhos, o sentir desse espaço infinito por onde o pensar foge da imagem. Vejo outros mundos dentro do mundo em que me adentro a ver.  A vida do viajante é interessante porque nunca consegue descansar a cabeça, sempre quer olhar e pisar mais o todo de qualquer canto por onde passa. O viajante difere do turista, ele é quem conduz o roteiro, quase sempre aleatoriamente, mesmo que organizado,

Ah! Os Relógios*

Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira. Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção. E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes indaga que horas são... *Mário Quintana, in 'A Cor do Invisível'

Vida de Livreiro...*

Isto vale muito a pena...  mas cansa , às vezes. Vida de Livreiro. Nunca gostei da expressão "vendedor de Livros". Comercial em demasia. Livreiro apenas. Para dizer mais. Para dizer tudo.... Aliás, nunca me senti confortável vendendo livros. Ou cobrando livros. No fundo, no fundo ensejava ser doador de livros. Ou emprestador de livros. Imaginava e tinha certeza que me daria melhor numa biblioteca. Ou numa livraria beneficente.... Sempre digo que livreiro tem que ser curioso. Não pode ver pacote de livros, necessita abri-lo. Não pode ver livro de contracapa, necessita virá-lo. Não pode ver livro fechado, necessita abri-lo.. Singular profissão a nossa, não é Mauro Messina. Conversávamos, eu e o Mauro. Havia época em que livreiro tinha também a função de pesquisador de temas e autores para os clientes. Lembrei-me de uma historieta: Procurou-me, certa feita, uma amável senhora que estava se preparando para um concurso. Trazia somente as temáticas do concurso.

Talento não é Sabedoria*

Deixa-me dizer-te francamente o juízo que eu formo do homem transcendente em gênio, em estro, em fogo, em originalidade, finalmente em tudo isso que se inveja, que se ama, e que se detesta, muitas vezes. O homem de talento é sempre um mau homem. Alguns conheço eu que o mundo proclama virtuosos e sábios. Deixá-los proclamar.  O talento não é sabedoria. Sabedoria é o trabalho incessante do espírito sobra a ciência. O talento é a vibração convulsiva de espírito, a originalidade inventiva e rebelde à autoridade, a viagem extática pelas regiões incógnitas da ideia. Agostinho, Fénelon, Madame de Staël e Bentham são sabedorias. Lutero, Ninon de Lenclos, Voltaire e Byron são talentos. Compara as vicissitudes dessas duas mulheres e os serviços prestados à humanidade por esses homens, e terás encontrado o antagonismo social em que lutam o talento com a sabedoria. Porque é mau o homem de talento ? Essa bela flor porque tem no seio um espinho envenenado ? Essa esplêndida taça de brilh

Canção da saudade*

Canta a canção das horas que não vejo Das veias que dilatam Dos urros que esbravejo Segue o contorno desses dias ancorados A um presente que resiste Por força do passado. Canta a canção das horas que eram tuas Alegria do som da tua voz – a minha cura Ainda ronda os sentidos, ainda te procura. Horas debruçada nos limites do teu rosto, E plena de teu mundo, de teu gosto, Retinha teu carinho em desmesura. Canta a canção e acorda a que tão bem conheces Que sonha, que sabe de delírios E algumas alegrias porque não te esquece; Acotovelada à janela da eternidade Anda mouca para os sons que antes ouvia Enquanto teu cantar não acontece. *Sônia C. Prazeres Filósofa, Poeta, Filósofa Clínica São Paulo/SP

Qualquer Tempo*

Qualquer tempo é tempo. A hora mesma da morte é hora de nascer. Nenhum tempo é tempo bastante para a ciência de ver, rever. Tempo, contratempo anulam-se, mas o sonho resta, de viver. *Carlos Drummond de Andrade

Mulher sertão*

Venho da educação sertaneja do outro século, quase XIX, das casas de farinha de mandioca e polvilho torcido à mão. Dos mutirões de pamonha, da fiação de algodão, dobando meada. Capina roçado, levanta casa de placa de concreto e pintura de caiação. A mulher recato passou pela mulher hippie, virou mulher livre, hoje, mulher política, mas sempre mulher trabalho. Não me dou com essas manipulações que juntam sorriso e mal. Minha sinceridade é dura; esse é o preço da verdade. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Brasília/DF

A Essência da Poesia*

Não aprendi nos livros qualquer receita para a composição de um poema; e não deixarei impresso, por meu turno, nem sequer um conselho, modo ou estilo para que os novos poetas recebam de mim alguma gota de suposta sabedoria. Se narrei neste discurso alguns sucessos do passado, se revivi um nunca esquecido relato nesta ocasião e neste lugar tão diferentes do sucedido, é porque durante a minha vida encontrei sempre em alguma parte a asseveração necessária, a fórmula que me aguardava, não para se endurecer nas minhas palavras, mas para me explicar a mim próprio. Encontrei, naquela longa jornada, as doses necessárias para a formação do poema. Ali me foram dadas as contribuições da terra e da alma. E penso que a poesia é uma ação passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e solidariedade, o sentimento e a ação, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da Natureza. E penso com não menor fé que tudo se apoia - o homem e a sua sombr

Vida de Cão*

Como vai amigo Tião? Estou escrevendo pra te contar as coisas estranhas que estão acontecendo nas minhas férias aqui na praia de Jurerê Internacional. Já ouvistes falar? É um lugar fantástico, nunca vi nada igual. Praia de gente rica e famosa. Mar azul, calmo, água quente, areia fininha, lanchas, iates, vendedores ambulantes, comida e bebida à vontade. Mas não pude aproveitar nada disto, nem vais acreditar. Logo que chegamos no prédio onde iríamos veranear, bem em frente à praia, já estranhei. Parecia uma vitrine de loja. Todo envidraçado, com mármores, espelhos e lustres de cristal enormes. Quase fiquei cego de tanta luz e mal conseguia caminhar naquele piso escorregadio. De repente, apareceu um homem vestido de terno preto e gravata, me pegou no colo e me carregou até nosso apartamento. Nunca ninguém havia feito isto comigo, e por pouco não o mordi de tão assustado que fiquei. Depois me explicaram que não permitem animais circulando nas áreas comuns do prédio. Dizem

É Preciso Repensar a Nossa Vida*

É preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam.  Para que elas possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo. Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados…  Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, d

Trânsito Carioca*

Parado, estocado, findado, amarrado Alguns poucos passos à frente Nada de muito significativo Nos encontramos numa carruagem Onde os cavalos nos levam a algum lugar Do qual não sabemos nada Mas esse não-devir incomoda a todos. Inocente, postergado e puto Nessa onda louca, baixa e sem efeito sobre o mar Continuamos caminhando. A passos de tartaruga, seguimos adiante Mas o adiante continua distante. A música que toca não nos toca. Não nos enxergamos sendo parte, Mas o mar nos leva em alguma direção. Quando chegaremos lá? Depende de quando sairemos daqui. Apressados e estressados encontram outros Que não ligam para o derredor. O derredor é ignorado, Pois vivemos nossas vidas. Quando finalmente caminhamos como coelhos, Nos vemos parados novamente. Detidos por alguma forma natural Que nos empurra para a parada O não-devir nos faz continuar na nossa condição primordial: parados. Pareados com o não-movimento Vamos nos abastecendo de p

O Conflito entre o Conhecimento e a Fé*

Durante o último século, e parte do século anterior, era largamente aceite a existência de um conflito irreconciliável entre o conhecimento e a fé. Entre as mentes mais avançadas prevaleceu a opinião de que estava na altura de a fé ser substituída gradualmente pelo conhecimento; a fé que não assentasse no conhecimento era superstição e como tal deveria ser reprimida (...) O ponto fraco desta concepção é, contudo, o de que aquelas convicções que são necessárias e determinantes para a nossa conduta e julgamentos não se encontram unicamente ao longo deste sólido percurso científico. Porque o método científico apenas pode ensinar-nos como os factos se relacionam, e são condicionados, uns com os outros.  A aspiração a semelhante conhecimento objectivo pertence ao que de mais elevado o homem é capaz, e ninguém suspeitará certamente de que desejo minimizar os resultados e os esforços heroicos do homem nesta esfera. Porém, é igualmente claro que o conhecimento do que é não abre di

Se...*

Se não houverem braços acolhedores E longos o suficiente Negue-me o seu abraço.... por favor. Se o olhar não abrir janelinhas Para algum paraíso Desvie seus olhos dos meus.... por favor. Se a alma não tiver Um pequeno cantinho para mim Não me acene com acolhimento E algum colo para o descanso... É que eu ando de mãos dadas com a ilusão. *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

A embriaguez do artista*

Para que haja arte, para que haja alguma ação e contemplação estéticas, torna-se indispensável uma condição fisiológica prévia: a embriaguez. A embriaguez tem de intensificar primeiro a excitabilidade da máquina inteira: antes disto não acontece arte alguma. Todos os tipos de embriaguez, por muito diferentes que sejam os seus condicionamentos, têm a força de conseguir isto: sobretudo a embriaguez da excitação sexual, que é a forma mais antiga e originária de embriaguez. Também a embriaguez que se segue a todos os grandes apetites, a todos os afetos fortes; a embriaguez da festa, da rivalidade, do feito temerário, da vitória, de todo o movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez da destruição; a embriaguez resultante de certos influxos meteorológicos, por exemplo: a embriaguez primaveril; ou a devida ao influxo dos narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade sobrecarregada e dilatada. O essencial na embriaguez é o sentimento

Convite Oficial

É com muita honra e alegria que a Casa da Filosofia Clínica e a Editora Vozes convidam para o lançamento da obra inaugural da coleção de Filosofia Clínica: " Ser Terapeuta " da multitalentosa Rosângela Rossi. Nossa busca é qualificar os estudos, as leituras, pesquisas, atendimentos. Compartilhar sabor e saber através de uma seleção dos textos de profissionais comprometidos com a prática, a pesquisa desse novo paradigma de cuidado e atenção à vida: Filosofia Clínica .  Desejamos a todos boas leituras e releituras! Muito bem vindos! Hélio Strassburger Casa da Filosofia Clínica Coordenador da Coleção

Estéticas da palavra*

“Queremos ao menos uma vez chegar no lugar em que já estamos” “(...) logos . A profundidade dessa palavra permanece, no entanto, para mim muito obscura. Aguardo sempre a vinda de um anjo apocalíptico trazendo a chave desse abismo” “A grandeza de uma obra consiste, na verdade, em que o poema pode negar a pessoa e o nome do poeta” “A poesia de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo. Cada poema fala, no entanto, a partir da totalidade dessa única poesia, dizendo-a sempre a cada vez” “A conversa do pensamento com a poesia busca evocar a essência da linguagem para que os mortais aprendam novamente a morar na linguagem” “A linguagem da poesia é essencialmente polissêmica e isso de um jeito muito próprio. Não conseguiremos escutar nada sobre a saga do dizer poético enquanto formos ao seu encontro guiados pela busca surda de um sentido unívoco” “Deixei uma posição anterior, não por trocá-la por outra,

Colorindo o conceito de prazer*

Sendo apenas humana e bem levinha, me permito debochar do garanhão malvado do filme 50 Tons de Cinza. Queridos, ler não li, não consegui passar do primeiro capítulo, mas não resisti e fui ver através da sétima arte e comprovar o que de cinza tem naquela estorinha água com açúcar produzida para vender bilhões de dólares de ilusões acerca de um prazer que pode servir a uns e aterrorizar a outros. Meu ponto de vista. Fantasia romântico erótica que tenta impressionar e causar sensações sem atingir, e de longe, os contos disfarçados de estórias de amor dos populares, Júlia, Sabrina e Bianca, vendidos a um real nos sebos da cidade. Minha crítica e não minha verdade. Tentativa frustrante de uma versão muito piorada do espetacular: Nove e meia semanas de amor com a deusa Kim Besinger e o lindíssimo (na época) e mau de verdade, Mickey Rourke. O cinema que me perdoe, mas roubar até a cena do gelo, foi um papel muito feio. Plágio ridículo. O romance, na minha opinião, propõe

Para ampliar os limites da compreensão*

“Pronunciar uma palavra é, por assim dizer, tocar uma tecla no piano da representação” “Podemos ver nossa linguagem como uma velha cidade: uma rede de ruelas e praças, casas velhas e novas, e casas com remendos de épocas diferentes; e isto tudo circundado por uma grande quantidade de novos bairros, com ruas retas e regulares e com casas uniformes” “Representar uma linguagem equivale a representar uma forma de vida” “Somente dentro de uma linguagem posso ter em mente algo como algo” “A palavra não tem significado algum quando nada lhe corresponde” “O significado de uma palavra é seu uso na linguagem” “(...) o que Frege tinha em mente quando dizia que a palavra só tem um significado no contexto de uma frase” “Não existe um método em filosofia, o que existe são métodos, por assim dizer, diferentes terapias” “A língua é um labirinto de caminhos. Você vem de um lado, e se sente por dentro; você vem de outro lado para o mesmo lugar, e já não se sente mais p

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