É preciso repensar a
nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e
repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver
com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima
da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam.
Para que elas
possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou
tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa
por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à
flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo.
Por exemplo, com aquela
que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por
mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos
conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos
treinados…
Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por
exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro
e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo
todo.
*Al Berto, in Entrevista à revista Ler (1989)
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