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Imaginação e mobilidade*


(...) Pretende-se sempre que a imaginação seja a faculdade de formar imagens. Ora, ela é antes a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo, a faculdade de libertar-nos das imagens primeiras, de mudar as imagens.  (...) Graças ao imaginário, a imaginação é essencialmente aberta, evasiva. É ela, no psiquismo humano, a própria experiência da abertura, ela especifica experiência da novidade.

(...) O poema é essencialmente uma aspiração a imagens novas. Corresponde à necessidade essencial de novidade que caracteriza o psiquismo humano.

(...) O ser torna-se palavra. A palavra aparece no cimo psíquico do ser. A palavra se revela como o devir imediato do psiquismo humano.  (...) O sonhador deixa-se ir à deriva. Um verdadeiro poeta não se satisfaz com essa imaginação evasiva. Quer que a imaginação seja uma viagem. Cada poeta nos deve, pois, seu convite à viagem. Por esse convite recebemos, em nosso ser íntimo, um doce impulso, o impulso que nos abala, que põe em marcha o devaneio salutar, o devaneio verdadeiramente dinâmico.

(...) O verdadeiro poeta é aquele que nos inspira. (...) Só a imaginação pode ver os matizes; ela os apreende na passagem de uma cor a outra.

(...) Florescer é deslocar matizes, é sempre um movimento matizado. (...) É o trajeto que nos interessa, e o que nos descrevem é a estada. Ora, o que queremos examinar nesta obra é na verdade a imanência do imaginário no real, é o trajeto contínuo do real ao imaginário.

*Gaston Bachelard

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