Pular para o conteúdo principal

O Pensar*


Em seu prólogo do livro: A condição humana, Hannah Arendt o finaliza dizendo: “O que proponho, portanto, é muito simples: trata-se apenas de pensar o que estamos fazendo”. Ayn Rand, filósofa russa naturalizada norte-americana, no final de seu livro: Objetivismo relata: “Salvar o mundo é a coisa mais simples do mundo. Tudo que se tem a fazer é pensar”.

Se olharmos o mundo que aí está, verificaremos que o problema dele não é o fazer: edifícios, carros, tecnologia, construções, rodovias e todo tipo de produto do fazer humano está espalhado ao nosso redor mostrando a capacidade humana de realizar coisas.

O que nos falta é o pensar mais profundo, aquele que antecede o projeto do fazer. Se nosso fazer é produto de nosso pensar, na medida em que dermos mais atenção ao pensar profundo, mais qualidade poderá sair para um futuro fazer, ou até a decisão, muitas vezes sábia, de não fazer nada.

Havia um ditado que dizia: se tivesse dez horas para derrubar uma árvore, passaria oito delas afiando o machado. Esse estado de pensamento mais profundo e mais separado de qualquer ação é uma postura rara nos dias de hoje , onde tudo que se pensa tem de virar ação e produto para o mundo.

É claro que qualquer ação do pensar está intimamente ligada a um fazer, mas não precisa ser uma corrente curta e nem precisa levar a uma ação imediata. Por quê? Porque se nossas ações refletirem a mais profunda análise de nosso ser reflexivo (e auto-reflexivo) e se essa análise levar a alguma ação, esta poderá ser mais qualitativamente significativa.

Nas escolas, por exemplo, há as reuniões pedagógicas frequentes entre os professores, que são fazedores por profissão e alguns por natureza pessoal. Discute-se, nessas reuniões, as práticas pedagógicas e ferramentas para a metodologia. 

Pelo menos uma dessas reuniões deveria ser transformada em pensar pedagógico: o que é Educação? O que estamos querendo desenvolver nas pessoas? Onde queremos chegar com essas ações na próxima geração? Qual nosso verdadeiro papel enquanto professores ou educadores? Qual o papel da escola na sociedade? E por aí vai... A pauta dessa reunião seria: pensar! Pensar para refletir, para auto refletir, pensar juntos para ouvir e dialogar sobre aquilo que deveria estar explícito e não dado como pressuposto geral.

Pensar é o trabalhão mais árduo que há, e, se torna mais penoso, pelo fato de não o fazermos com frequência, o que nos torna cada vez mais estranhos a nós mesmos e ao mundo que ajudamos a fazer sem pensar.

*Fernando Fontoura
Filósofo, Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS

Comentários

Visitas