Então você tem uma vida
romântica e sexual esplendorosa?
Então você grita, esperneia, fala coisas que nem está pensando de verdade para demonstrar o seu
nível de prazer na cama?
Você grita? Pode ser
que o seu prazer seja mesmo do tamanho do seu grito, que ele seja de nível
incontrolável, inacreditável do tipo, vou morrer aqui agora e nem ligo. Pode
mesmo ter a ver esta coisa do grito, dos gemidos enlouquecidos, próprios de um
beijo sufocante para abafar o caso, com um clímax merecedor de fogos e
fanfarras. Isto pode até corresponder a uma realidade, pode mesmo ser o seu
jeito de expressar prazer, contudo cabe avaliar alguma hipótese de descontrole,
ou medo, ou aflição, ou desejo sincero de nem estar ali.
Você fala coisas que
nem percebe, nem concebe de verdade? Jargões decorados, palavras de baixo calão
daquelas bem diferentes, mas bem diferentes mesmo das que você usa para
conquistar o parceiro ou viver em sociedade?
Então você tem uma vida
romântica e sexual esplendorosa? Você e seu parceiro vivem trocando carícias em
público e anunciando aos quatro ventos o quanto cada um de vocês é competente
na cama, o quanto expandem o prazer de vocês, quantas vezes transam por semana,
quantos orgasmos tem em cada transa.
E você rapaz, que pega
todas as menininhas, às vezes mais de uma por semana ou dia ou mesmo noite?
Então o senhor sultão é o berço da felicidade em pessoa? Todas as mulheres o
desejam e ele da conta de todas?
As redes sociais, as
revistas e os jornais, a vida das celebridades e dos anônimos em seus
mundinhos, anunciam, obedecendo a uma lei que obrigada todo mundo se declarar
inserido e realizado no contexto da atual vida sexual feliz.
O assunto nas rodinhas
não é outro e quem não conta, não deixa ouvir os gritos e grunhidos pelas
janelas, paredes e corredores, quem não mostra de alguma forma que tem alguém
ou alguns para compartilhar, é infeliz, incapaz, tem preferências sexuais
“anormais” e tantas outras características que hoje são comuns e passíveis de julgamento,
principalmente por aqueles que se exibem muito, mas que na verdade se nutrem
das criticas que fazem aos discretos para viverem da ilusão, que são
realizadíssimos neste âmbito.
Existe um universo que
tenta obrigar um singular a comprar a fórmula mágica da realização no amor, mas
existe um singular que não se rende, não se enquadra, que resiste e se faz
especial para alguém especial e a divindade reconhece neles um encontro ideal
para a fórmula do amor continuar existindo além do vulgar e do profano ainda
que em êxtase, ainda que em um prazer desconhecido, enorme e inatingível para
quem vive completamente fora de si.
Quem tem mesmo, não
conta.
*Dra Jussara Hadadd
Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Especializada nas questões do feminino
Juiz de Fora/MG
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