Todos os anos,
exterminamos comunidades indígenas, milhares de hectares de florestas e até
inúmeras palavras das nossas línguas. A cada minuto extinguimos uma espécie de
aves e alguém em algum lugar recôndito contempla pela última vez na Terra uma
determinada flor.
Konrad Lorenz não se
enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos
isso, uma espécie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projeto por
concluir.
Falou-se bastante
ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos distancia na
realidade dos animais é a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura
de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos
deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econômico.
Sempre me pareceu
incrível que uma sociedade tão pragmática como a ocidental tenha deificado
coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens
efémeras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tribo da
sensibilidade...
*José Saramago
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