Um
artista da palavra em sua louca lucidez. Uma desestrutura dentro da estrutura
delirante, criativa, inventiva. Antonin Artaud com sua escrita, seu teatro, parece
querer emancipar o homem, apesar do homem. Sua produção em roteiros, devaneios,
narrativas do insólito, compõe um convite aos movimentos da lógica difusa.
Interessante
seu parecer sobre um artigo do doutor Beer, no qual este dizia ter descoberto
em Van Gogh uma esquizofrenia: “Não, Van Gogh não era louco, ou então ele o era
no sentido desta autêntica alienação que a sociedade ignora, sociedade que
confunde escrita com texto, ela que tacha de loucura as visões exorbitadas de seus
artistas e sufoca seus gritos no ‘papel impresso’: Foi assim que calaram
Baudelaire, Edgar Poe, Nerval e o impensável conde de Lautréamont. Porque
tiveram medo que suas poesias saíssem dos livros e revertessem a realidade”
(Lettre sur Lautréamont, março de 1946).
O
autor_pensador proclama a nulidade definitiva do olhar clínico da psiquiatria. Aponta a natureza da atividade estética como
um chão nas estrelas. Um ponto de partida para ampliar horizontes, desbravar
fronteiras, emancipar territórios desconhecidos. Sua reflexão proclama
transbordamentos, sua encenação acolhe inéditos sentidos.
Em
Artaud existe uma reivindicação da genialidade para se ter acesso ao real, o
qual, é mais do que se apresenta, superior as estórias, rituais, invenções, misticismos,
surrealismos. Quiçá uma nova epistemologia apta a dialogar com esses instantes
de loucura criativa, libertária. Para ele, na base dessa rebelião
reivindicativa, pode-se encontrar a origem do gênio. Sua inconformidade com os
regramentos que não lhe pertencem, denunciam o mundo que já está dado antes de nascer.
Sua
revolta adquire contornos de uma transcendência, recriando-se nos múltiplos
palcos onde seus textos acontecem. Eventos de um cotidiano estranho, por onde acontece
um íntimo acordo com seus personagens. Talvez um refúgio contra os golpes da razão
familiar ou as pílulas do alienista.
Ao
autor cabe descrever-se no teatro, por ser uma arte integrativa do que é e do
que não é. Realiza nos palcos aquilo que nem sempre pode acontecer na vida cotidiana.
Acolhe, em seu viés criativo, conteúdos desconsiderados, alienados pelo
tratamento de choque da realidade.
Seus
textos apontam uma singularidade fora de si. Um sujeito a desdobrar-se em
circunstâncias de anuncio e proclamação das novas verdades. O delírio parece ser
a única saída para a ditadura da normalidade.
*Hélio Strassburger
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