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Mostrando postagens de junho, 2015

Gente que eu gosto*

Antes de mais nada gosto da gente que vibra, que não é necessário empurrar, que não se tem que dizer que faça as coisas e que sabem o que tem que ser feito e o fazem em menos tempo que o esperado. Gosto da gente com capacidade de medir as conseqüências de suas ações. A gente que não deixa as soluções para a sorte decidir. Gosto da gente exigente com seu pessoal e consigo mesma, mas que não perde de vista que somos humanos e que podemos nos equivocar. Gosto da gente que pensa que o trabalho em equipe, entre amigos, produz às vezes mais que os caóticos esforços individuais. Gosto da gente que sabe da importância da alegria. Gosto da gente sincera e franca, capaz de opor-se com argumentos serenos e racionais às decisões de seus superiores. Gosto da gente de critério, a que não sente vergonha de reconhecer que não conhece algo ou que se enganou. Gosto da gente que ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê

Confiança...*

Há momentos de fragilidade de alma que a única alternativa para continuar caminhando é confiar. São nesses momentos que nos conectamos com o mais profundo que há em nosso "EU". Momentos de muitos desafios, dores por reconhecermos nossas sombras e hiatos de fé por um amanhã mais confortante. Se mantivermos nossos pés no chão da razão e nossos corações no divino que existe em nós, esses momentos poderão servir para um aprimoramento pessoal de grande valia. A reforma íntima tão pregada por muitas crenças se inicia a partir de nossas dores pessoais, entretanto, se faz necessário uma reflexão e um alargamento de consciência. Eu, particularmente acredito, que nada, absolutamente nada nessa existência é por acaso! Acredito que uma dor tenha um significado tão importante quanto a lucidez de uma vida saudável. Se aprendermos a significar de forma imparcial os acontecimentos diários, conosco ou com um próximo, perceberemos que a própria vida com sua habilidade de ensinar nos e

Despalavra*

Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra. Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades humanas. Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de pássaros. Daqui vem que todas as pedras podem ter qualidades de sapos. Daqui vem que todos os poetas podem ter qualidades de árvores. Daqui vem que os poetas podem arborizar os pássaros. Daqui vem que todos os poetas podem humanizar as águas. Daqui vem que os poetas devem aumentar o mundo com suas metáforas. Que os poetas podem ser pré-coisas, pré-vermes, podem ser pré-musgos. Daqui vem que os poetas podem compreender o mundo sem conceitos. Que os poetas podem refazer o mundo por imagens, por eflúvios, por afeto. *Manoel de Barros

Espaços vazios*

Não vem a poesia Quando a alma entristece Ou vem triste A dor é dor mesmo Fria como este inverno Pedra áspera... O que deveria acontecer Não acontece Consome O que deveria ser consumado E se sofre Tudo sofre Sofre ele E sofre ela... Falta alguma coisa Para ele Ele sabe: É ela E falta alguma coisa Para ela: É ele E ela não sabe Ou não quer saber. Perambulam por aí Ele e ela Fazendo coisas erradas... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Existencialismo da Imagem Nua*

“O olhar do outro afeta o meu de um índice de cegueira. Mas a cegueira provoca a imaginação.” José Gil Eis a questão que me envolve às vezes na reflexão, se existe existencialista pós-moderno, depois, em outra linha do pensar, digo a mim com a convicção própria de um homem do século XXI, se é que existe mesmo, é o pós-moderno existencialista. Se existisse ainda existencialista, certamente não seria pós-moderno, seria um herdeiro do marxismo, seria um saudoso homem diante de questões pós-cartesianas, dentro de um embate profundo sobre a objetivação do sujeito. Só que isso passou. Se hoje se fala de existencialismo porque existe um resquício sartreano na linguagem que atravessou o século XX, e permanece no corpo de muito pós-moderno existencialista a extensão do tempo que se metamorfoseou, deixou de ter um único ideal. Tenho o pensamento no pêndulo do tempo, nas ruas de Paris, assim como tenho o olhar na imagem da história e disso posso ter uma certeza ‒ não a verd

Viver o Hoje*

Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o te

Instinto de Rebanho*

Em toda a parte onde encontramos uma moral encontramos uma avaliação e uma classificação hierárquica dos instintos e dos atos humanos.  Essas classificações e essas avaliações são sempre a expressão das necessidades de uma comunidade, de um rebanho: é aquilo que aproveita ao rebanho, aquilo que lhe é útil em primeiro lugar - e em segundo e em terceiro -, que serve também de medida suprema do valor de qualquer indivíduo.  A moral ensina a este a ser função do rebanho, a só atribuir valor em função deste rebanho. Variando muito as condições de conservação de uma comunidade para outra, daí resultam morais muito diferentes; e, se considerarmos todas as transformações essenciais que os rebanhos e as comunidades, os Estados e as sociedades são ainda chamados a sofrer, pode-se profetizar que haverá ainda morais muito divergentes. A moralidade é o instinto gregário no indivíduo. *Friedrich Nietzsche

Escritas e reescritas*

quando chega a noite, o silêncio convida a quietude. nem as estrelas podem contar os segredos da alma. fica o gosto do vivido além do desejo de mais um dia. tudo vira história no já passou e o vir-a-ser será tecido. quem escreverá o conto será nossa ação. o resto é agora, no agora, do agora... *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Poeta. Juiz de Fora/MG

Meu deus, são estrelas demais!*

Imagine-se cercado de estrelas. Ali do lado, ao alcance da mão É fácil enlouquecer durante a semana de cinema brasileiro, em Gra­mado. Sem falar no choque cultural com a cidade europeizada, sem nordestinos nem mendigos; sem falar na estranha neblina que desce de repente do pico das serras, a qualquer hora do dia, para ir embora sem o menor aviso; sem falar no ar tão limpo e na luz tão clara que chegam a doer nos pulmões e nos olhos acostumados ao cinza urbano. Mesmo sem considerar isso tudo ajudando no processo de loucura— há as estrelas. E estrelas, você sabe, não são de carne e osso. Pelo menos no meu coração de guri criado no meio dos campos da fronteira com a Argen­tina, vendo estrelas só no céu — o céu do Rio Grande é o mais belo do Brasil, sem bairrismos — e nas revistas. As estrelas das revistas mais intocáveis até do que as do céu, que numa determinada época do ve­rão costumavam desabar aos montes em direção ao horizonte. Fazía­mos pedidos. As outras, as da terra, n

Majora***

“Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre”                               José Eduardo Agualusa Certos universos nos surpreendem, mais ou menos como a máxima de achar que de onde menos se espera, surgem preciosidades, ou, pelo menos, algo se mexe no espírito meio adormecido. Foi assim com a lua de Majora, prestes a cair, caso o tempo não se incumba de encontrar soluções favoráveis aos destinos incertos de cada um de seus habitantes (com seus dramas e seus sonhos inacabados). O que parecia ser uma simples brincadeira revelou-se uma reflexão curiosa sobre percepção e valores. No interior deste belo e enigmático ambiente, crianças brincam a desafiar dilemas e nos convidam a tirar nossas máscaras, expor nossas questões e nos revelarmos. As crianças indagam: “Seus amigos, que tipo de pessoas eles são? E essas pessoas te veem como um amigo?” Amigos... são como c

Jürgen Habermas – o pensador no século XXI*

Hoje é o aniversário de Jürgen Habermas, nasceu em Düsseldorf ‒ Alemanha ‒ 18 de junho de 1929. Filósofo e Sociólogo, um dos grandes representantes da Teoria Crítica, soube como poucos atualizar o legado de Marx, de Adorno, Horkheimer e Marcuse. Atuante em questões de seu tempo, chegou neste século com sua obra em plena forma, atualíssimo. Conseguiu trazer temas tão importantes para as Ciências Humanas com uma renovação criativa, como por exemplo, a Teoria do Agir Comunicativo. O Mundo da Vida causou uma tempestade, o autor ganhou interlocutores críticos e, também, atraiu vorazes inimigos nessa esteira teórica que ele nos presenteou em livros. É isso que se quer de um pensador, a potencialidade da obra é, também, a luz que reflete e reflexiona, como pode ser a luz a ofuscar ideias pretensamente únicas e definitivas. Até hoje, Habermas, é um indicativo de que o pensamento crítico ainda vive. O pensador da emancipação, crítico dos exageros do cientificismo e da especiali

Meu canteiro de Flores*

Juro como fiz tudo direitinho Preparei bem o terreno Afofei a terra. Fiz carinho Deitei as sementes. Uma por uma Grãozinho por grãozinho Aguei com cuidado Tentei fazer tudo direitinho. Protegi do sol muito forte Fiz guarda-chuva contra temporais Ao dormir, cansado, conferia meu canteiro Cedinho, pela manhã, espiava meu canteiro Pela janelinha do meu quarto Esperando algum brotinho Deu nada não... Deu nada não Desconfio que a semente seja transgênica Faz mal nada, não Vou refazer tudo de novo: Preparar o terreno Afofar a terra Deitar a semente Aguar com cuidado Velar dia e noite Montar guarda se preciso for Até que o brotinho apareça... Depois vou contar pra todo mundo... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Legente*

Há muito tempo, desde que a tarde se ouvia Com o murmúrio da chuva nas janelas, eu lia. O vento lá fora, já o não escutava: O meu livro pesava. Como se fossem rostos, as folhas sob o meu olhar Escurecem de tanto pensamento E, envolvendo a leitura, avolumava o tempo. De súbito desce sobre as páginas um fulgor, E em vez de confusas palavras - um tormento - Há em todas só... noite, noite só, a nascer. Não olho ainda para fora, mas já as longas Linhas se desfazem, e as palavras rolam Do fio que as liga, vão para onde querem... E então eu sei que há céus sem fim Sobre o esplendor e a plenitude dos jardins; O sol teve de nascer mais uma vez. - E agora é verão e noite o horizonte: O que andava disperso em grupos se une, Poucos, e há gente pelos caminhos escuros, E longe, estranhamente, como se outro sentido Tivesse, ouve-se o pouco que ainda acontece. E ao levantar do livro o olhar agora, Nada me é estranho, tudo tem grandeza. O que aqui de

Vinho: a Bebida Sagrada dos Cristãos*

“Bebei, isso é meu sangue” disse Jesus ao levantar o cálice com vinho. E concluiu dizendo: “fazei isso em minha memória”. Na Bíblia, no livro de Mateus, o autor faz um relato do nascimento de Jesus descrevendo que os Reis Magos levaram ao Messias três presentes especiais: ouro, símbolo da realeza; incenso, símbolo da espiritualidade; e mirra, símbolo do profetismo, que não passa de um fortíssimo alucinógeno comparado a morfina utilizado em rituais religiosos na África antiga. No Evangelho de Marcos, a mirra aparece mesclada ao vinho, oferecida a Jesus torturado antes de o crucificarem. Ele rejeitou a bebida. Ao longo de toda a história, o uso de alucinógenos e outros aditivos químicos teve início em rituais religiosos. No Brasil, por exemplo, temos ayahuasca utilizada pelos adeptos do Santo Daime e União do Vegetal, religiões nascidas com o povo da floresta amazônica. Muitas religiões e seitas têm suas bebidas sagradas e o vinho é a bebida sagrado dos Cristãos, institu

A que bebeu poesia*

A louca que passa Deixou na vidraça Um olhar que no fundo Tem muita desgraça. Será minha mãe A pobre da louca Que nada mais tendo Conserva a ternura? Será minha noiva Que louca ficou Depois que parti No barco da guerra? Será minha filha A louca do bairro Que a vida judiou Depois que morri?                   Ou foi a poesia Que a louca bebeu Que lhe deu esse ar De ser doutro mundo? *Luiz Guilherme do Prado Veppo

Nem todos os quebrantos, toda alquimia e nem todos os santos*

Acontece sim, com frequência, de casais não resistirem. O que não tem juízo, não faz sentido e não se explica. O que se sente e prende, quando em laço os sentidos atende e, se cuidado, regado e amparado com carinho e respeito, nada, nenhuma mandinga, pai de santo, nada vai desfazer. Nada vai separar um casal que se ama. O pecado é que acontece de muitos casais não resistirem às influências externas. Acontece, tristemente, aos olhos dos que apostavam naquela linda e promissora relação, o fim. Acontece, para decepção e angustia de uma das partes que apostou que deu o seu melhor e que confiou, do outro desistir. De o outro sucumbir ao entorno, muitas vezes egoísta e injusto que julga, condena e cobra momentos, presenças e recursos os quais por preguiça ou pura maldade, faz apenas, exigir, exigir e exigir. Acontece, para decepção de alguém que luta contra tudo e todos para permanecer em um amor, apesar de toda dificuldade, daquele que esperava as coisas melhorarem, p

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