Facebook informa:
Carlos Alberto lhe enviou uma solicitação de amizade.
Querido Carlos:
Agradeço sua
solicitação, mas infelizmente não posso
aceitá-lo agora, de imediato, em minha lista de amigos. A amizade, assim como a
confiança, não chega através de um mero pedido. Envolve um elenco de condições
que não cabem na formalidade de um protocolo. Não são qualidades, ações ou
comportamentos adequados ou rígidos que vão determinar o vínculo da amizade.
São os sentimentos que
brotam em conjunto, sem preocupações acerca de como ou porque iniciaram ou
quanto tempo vão durar. Atingida esta cumplicidade inexplicável, surge um
princípio de verdade e a amizade torna-se vitalícia.
Meus amigos só deixarão
o posto quando morrerem, e torço para que este dia nunca chegue. Até mesmo
quando não estiverem mais nesta vida terrena, a amizade continuará nos unindo.
Procuro fazer com meus
amigos o que faço com bons livros. Guardo-os com todo o cuidado e carinho onde
os possa encontrar. Sei que quando precisar, estarão ali, a meu lado.
Incondicionalmente. A recíproca também é verdadeira, não os abandonarei, tampouco
os deletarei, por menor que seja o tempo que a mim dediquem. Como podes ver, é
uma lista sagrada e seleta.
Quando lançaram o
facebook, achei interessante acumular o maior número possível de amizades
virtuais. Pensava utilizar essa mídia social como ferramenta para divulgar meu
trabalho. Aceitava todas as solicitações e pedia para ser incluído em várias
listas. A experiência não me agradou. Logo atingi a cifra de quase mil
"amigos desconhecidos". Inventei este apelido afetuoso para designar
pessoas ou entidades com as quais nunca troquei duas palavras mas que
anualmente enviam mensagens automáticas de “Parabéns” ou “Felicidades” na data
do aniversário e curtem toda e qualquer postagem.
Já que estamos em
processo de inicio de amizade, vou aproveitar e fazer uma confidência: não
curto mais este tipo de relação e pretendo realizar uma depuração nestas
aproximações ilusórias e cortesias mecânicas.
Aristóteles, filósofo grego, já dizia: "quem tem muitos amigos, não
tem nenhum". Portanto, não acho justo incluí-lo numa lista tão distante e
despretensiosa.
Mas posso te fazer uma
boa proposta. Que tal te colocar na minha lista de conhecidos? Todas minhas
amizades começaram assim: nos cruzamos por acaso, fomos estreitando os laços,
e, quando nos demos conta, já éramos amigos. Não sei quem disse a frase, mas
gosto dela: “a gente não faz amigos, reconhece-os”.
Por favor, não me
interprete mal pensando que sou esnobe, arrogante ou pernóstico. Estou apenas
valorizando uma verdadeira amizade e dando-lhe a devida importância no contexto
desta tendência atual de encontros e desencontros cada vez mais virtuais.
Numa época em que as
pessoas se aproximam para assaltar, reclamar, pedir, bisbilhotar a vida alheia,
ou, no sentido inverso, não chegar perto de ninguém, isolando-se em seus
próprios mundos, um pedido sincero de amizade precisa ser celebrado e levado
muito a sério. Ser honrado com o título de amigo é uma conquista inestimável e
digna de poucos.
Voltando a pergunta
inicial: quero ser seu amigo? Claro que sim.
Tomara que sim. Vamos nos esforçar para que sim. O resto deixamos por
conta da vida, do tempo, da sorte.
Muito, mas muito
agradecido mesmo pela proposta, fiquei envaidecido com a distinção da escolha.
Forte abraço.
*Ildo Meyer
Médico. Escritor.
Filósofo Clínico
Porto Alegre/RS
Comentários
Postar um comentário