“Mas só sabemos que
sentimos uma emoção quando percebemos que essa emoção é sentida como algo que
está acontecendo em nosso organismo.”
António R. Damásio
“For I never dreamt that you'd be loving…”
Duke Ellington
(Ler ouvindo
"In a sentimental mood" com Duke Ellington and John Coltrane)
Já escrevi esse texto
antes alguns anos atrás, acho que lá por 2002. Deve estar em algum lugar da
memória, guardado na nuvem, está dentro de um romance que comecei, parei, no
“Editor de romances”.
Acordei no meio da noite, zonzo, como se tivesse sido
atropelado por algo, pelo sonho, pela música que tocava distante... Olhei para
os lados, me certifiquei que estava na minha casa, não reconheci a cama, mas o
velho teto mofo estava bem acima de mim. Acendi a luz. Fui até a peça que tinha
o som, onde costumava tocar meus discos, era John Coltrane e Duke Ellington ao
fundo. Não tinha nada ligado, voltei ao quarto, a velha TV ligada, um filme na
madrugada que estava tocando “In a sentimental mood”.
Levei susto, nunca passa
nada que presta nesses canais abertos, mas a música era uma das minhas
preferidas. O filme terminando, passava os créditos, enquanto isso tocava o som
que se tornou mais sensível ao meu acordar de sobressalto. Fui envolvido com o
silêncio da madrugada.
Naquele ano eu ainda estava fixo em uma teoria absurda,
ficava sempre imaginando que meus sonhos poderiam ser uma saída para minhas
próprias deficiências de pensar a realidade, aí comecei a ler tudo sobre a
consciência.
Até que cheguei há alguns resultados; primeiro, parei de pensar
que isso era um absurdo, ou seja, pensar sobre o próprio sonho, se ele tinha
alguma implicação além daquelas já estudadas, muitas desmitificadas do velho
Freud. Depois, no momento que me acostumei com a insônia, que era cada vez mais
presente em minhas noites, descobri que dormir mal não era dormir pouco, que
dormir era necessário, mas ficar pensando era tão importante que dormir muito.
Demorou mais uns anos para ter a plena certeza de que eu precisava acordar
muito cedo. Acordar e ir nadar, que a água me salvaria da depressão. Meus dias
se tornariam melhores. Mudei tudo. Alojei os pensamentos em outros lugares,
refiz meus compartimentos da caixa de pensar, só não desisti de tentar
compreender como se pode ter mais consciência no ato de sonhar, quando é que se
poder decifrar a realidade sem que tenhamos medo de apagar com o tempo por
completo.
*Dr. Luis Antônio Paim
Gomes
Professor. Escritor. Editor. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
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