Entre tantos ofícios
exerço este que não é meu,
como um amo implacável
obriga-me a trabalhar
de dia, de noite,
com dor, com amor,
sob a chuva, na
catástrofe,
quando se abrem os
braços da ternura ou da alma,
quando a enfermidade
afunda as mãos.
A este ofício
obrigam-me as dores alheias,
as lágrimas, os lenços
saudadores,
as promessas em meio ao
outono ou ao fogo,
os beijos de encontro,
os beijos de adeus,
tudo me obriga a
trabalhar com as palavras, com o sangue.
Nunca fui o dono de
minhas cinzas, meus versos,
rostos obscuros
escrevem-nos como atirar contra a morte.
*Juan Gelman
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