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Fragmentos Filosóficos Delirantes*



"Terreno da liberdade, a crônica é também o gênero da mestiçagem. Haverá algo mais indicativo do que é o Brasil ? País de amplas e desordenadas fronteiras, grande complexo de raças, crenças e culturas, nós também, brasileiros, vacilamos todo o tempo entre o ser e o não ser. Somos um país que se desmente, que se contradiz e que se ultrapassa. Um país no qual é cada vez mais difícil responder à mais elementar das perguntas: - Quem sou eu ?"

"Os poetas que valem realmente fazem a poesia dizer mais coisas do que dizia antes deles." Morrem, mas continuam a falar a nos surpreender."

"'Não é a simplicidade que se deve recomendar e elogiar'. Para Mário, a lei moral do artista digno era 'se realizar cada vez melhor em sua personalidade'. Ser simples, ou ser confuso, é uma consequência, não uma escolha."

"A literatura é um poço profundo, em que o chão nos escapa. Uma vez em seu interior, nada mais devemos esperar. Ficções não existem para fornecer respostas, ou para construir soluções; existem para nos afastar do sono das certezas. Para nos despertar."

"No mundo de rótulos e fórmulas comerciais em que vivemos, os escritores costumam ser aprisionados em imagens rígidas, verdadeiras couraças, que se tornam clichês vulgares e impedem a leitura independente de suas obras. Kafka, o escritor do absurdo; Clarice a escritora do Eu; Pessoa, o poeta das máscaras - eis algumas das armaduras com que, com a ilusão de que nos aproximamos, na verdade nos afastamos dos escritores e nos protegemos do impacto que a literatura é capaz de gerar."

"Como Clarice e Kafka (João Gilberto Noll), é um escritor que pouco está se importando com a tradição literária, com o desenrolar monótono de tendências e de gêneros, ou mesmo com a recepção do que escreve - até porque cada leitor lê aquilo que quer e que pode ler, e nada mais."

"Rilke não separa poesia e vida mas, ao contrário, vê a poesia como o resultado de uma atitude existencial particular, aquela que se pauta não pelo alinhamento a grupos ou tendências literárias, mas pela absoluta solidão."

"A literatura só chega a ser literatura se desiste do estável - o que, no campo pessoal, significa também desistir das boas vendas, do sucesso rápido e dos aplausos de ocasião. O escritor avança (seja em que direção for, seja como desejar) quando se desapega das leituras lineares do mundo."  

*José Castello in "As feridas de um leitor". Ed. Bertrand Brasil. RJ. 2012

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