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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Pequenos Robinsons em terra firme, somos todos, desse ponto de vista, heróis de romances que vagamos por mundos em construção, obrigados que estamos, para advir à existência no interior de nosso próprio texto, a fazer de nós também construtores de cenários, planejadores urbanos, geômetras, agrimensores, sinalizadores do espaço - e do tempo."

"(...) Espécie mais raro, o segundo - o viajante disponível -, por sua vez, chega, ao contrário, livre de todo programa preciso. Não tem nenhuma transação para concluir, nenhuma cobiça a satisfazer, nenhuma ordem a estabelecer. Desejando-se inteiramente desimpedido, ele sequer se preocupou, antes de partir, de notar o que poderia haver 'para ver' ali onde ele vai chegar. na realidade, se ele se pôs a caminho numa bela manhã, foi mais ou menos de improviso (...)"

"Ele não se instalará. Ele não se comportará como ocupante, nem por conta própria nem por conta de algum longínquo mandatário. Apenas passando, ele não incomodará nada, nem ninguém; não mudará um milímetro a ordem das coisas - nem mesmo a ordem do sentido. Ele não destruirá nada para refazê-lo segundo sua ideia (...)"

"Visitante por princípio respeitador dos equilíbrios que fundam a especificidade de um lugar ou de um meio estrangeiros, ele rejeita a ideia de os perturbar por sua presença ou sua ação. As paisagens que ele admira, tal como os espaços sociais, secretam cada um, ele o sabe, sua temporalidade própria para quem os sabe 'ler'"

"(...) Se o devir pressupõe logicamente o ser, a certeza de ser 'eu' pressupõe, por sua vez, a experiência - a visão, no caso, retrospectiva - de meu próprio devir. Fortuita ou deliberada, a ressurreição autobiográfica do passado é um meio privilegiado de prover a isso."   

"(...) valoriza deliberadamente a energia vital do advento, a força interpeladora da surpresa diante do novo, a virtude regeneradora dos começos."

"(...) Como numa espécie de intercâmbio, cada um dos dois universos empresta ao outro uma parte essencial do que o caracteriza, de tal modo que, embora permanecendo em princípio distintas, as duas ordens de fenômenos terminam, na prática dos agentes sociais, por se juntar, se assemelhar, e com frequência quase se confundir."

*Eric Landowski in "Presenças do outro" Ed. Perspectiva. SP. 2002

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