Geralmente,
quando olhamos a imagem de uma caveira, associamos a morte. Parece que ali está
a imagem da escuridão, do abismo, do sem volta, da tristeza, do sofrimento... Mas
isso se deve a que? Isso me faz lembrar os quadros “Vanitas”, obras que traziam
em sua configuração sempre a imagem de uma caveira, para nos lembrar de que um
dia vamos morrer.
A chamada expressão natureza-morta demonstra motivos da
vaidade deste mundo. Sabemos, ou melhor, deveríamos saber que nem tudo é para
sempre, muito menos a vida. Mas para isso precisamos falar sobre ela, a morte,
discutir, comentar, lembrar que ela, mesmo não aparecendo em imagem, está
presente, esperando o momento certo para dar o “bote” e concretizar seu
objetivo que é a finitude.
Para isso, precisamos deixar nossas vaidades de
lado, deixar de se importar com o corpo, corpo esse que vai ficar, vai virar pó.
Deveríamos lembrar, que o mais importante são nossas atitudes e momentos que
vivenciamos, e não a parte concreta, que em nossa sociedade atual é dado um
indevido valor. Narciso olha seu reflexo no lago e se apaixona por ele mesmo,
admirando sua própria imagem, acaba morrendo demonstrando o imenso valor que
dava a si próprio. Os Vanitas nos lembram de que em vida devo me preparar para
morte, preparar ela no meu eu, pois um dia vou sentir.
A
lembrança da morte me faz recordar um passeio que fiz, em um grande cemitério
de Porto Alegre, onde um historiador nos conta a memória do cemitério,
curiosidades, fatos históricos e a principal ideia da visita, o respeito pela
morte, principalmente respeitando a memória dos que já se foram. Uma bela frase
que me chamou muito a atenção, e que está escrita em muitos mausoléus é: “Nós, ossos
que aqui estamos, pelos nossos esperamos”, esta frase mostra que a vida é breve
e deve ser utilizada com sabedoria.
Hoje com as redes sócias (estou
falando diretamente daquela rede social), onde todos nós colocamos fotos de
acontecimentos, de conquistas, de lugares, de comidas, de bebidas, de tragédias,
de catástrofes, etc. Tudo para mostrar um acontecimento e se possível que o “eu”
faça parte desse acontecimento, um meio que se mostra ou a desgraça dos outros ou
o lado sempre positivo de nossas “vidas”, perfeitas, que não aparecem às
dificuldades, as desavenças, as fraquezas, as tristezas reais, onde geralmente sempre espera uma atenção desmerecida.
Nos dias de
hoje, deixamos de lado o principal, a essência do homem natural, o homem sem
camadas de proteção ao real, vivenciando as frustrações e não mascarando a
fraqueza de todos nós. Nisso, ela, a morte deve ser sempre lembrada como algo
real e não surreal, esperando que um dia ela vá aparecer e não desaparecer.
*Marcelo Ávila
Franco
Psicólogo.
Especialista em Educação. Estudante na Casa da Filosofia Clínica.
Porto Alegre/RS
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