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Mostrando postagens de março, 2016

A palavra devaneio*

                                             É incomum notar a existência de algo que restaria silenciado, não fora um olhar absorto, indeterminado, sentir improvável de um sonhar acordado. Esse lugar de refúgio aos desatinos da criação, concede uma estética de acolhimento ao viajante das quimeras.    Nessa região, onde eventos sem nome rascunham invisibilidades, é possível intuir vias de acesso de essência não epistemológica. Seu teor, ao pluralizar versões desconsideradas, faz acordar aquilo que dormia. Ao desalojar esses fenômenos, desconstrói o aspecto irrealizável das promessas. Esses eventos reivindicam a singularidade alterada para se mostrar. Assim a pessoa, deslocando-se por esses refúgios, ao ser ela mesma, já é outra.   Uma estética do devaneio, ao convidar para o exercício da ficção, oferece achados imprevisíveis. Inicialmente desconfortável nesse chão desconhecido, o sujeito pode vivenciar insegurança, dúvida, receio. No entanto, ao persistir as visitas po

O apanhador de desperdícios*

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. *Manoel de Barros

Buscas*

santa a semana me convida a recolher na intimidade de mim silenciar a existência viver a solitude essencial mergulhar mares infindos entrar florestas outonais voar cosmos estrelares dissolver-me no espaço encontrar O TaoCristo a tanto adormecido na minha vastidão em oração pedir perdão pela culpa dos desamores pelas escravidões pelas criticas e julgamentos pelas infinitas tagarelices pois, passou da hora de ser apenas superfície e me tornar fresta de amor *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Prefácio*

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. *Manoel de Barros

Manifesto de uma poesia existencial*

Talvez poucos estejam dispostos a ler o mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o seu próprio íntimo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que está nos livros e no coração do mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que eu escrevo aqui... Mas o que seria da arte, do desvelamento ou da poesia se houvesse rendição ou desistência? Porventura, o professor aprende, inspira e ensina enquanto o sábio ilumina, espera e tolera. Entretanto, quando impera numa nação o clamor de extremos e isso ainda é agravado por incitação e manipulação mentorada por uma minoria privilegiadíssima, facilmente a sensatez e o diálogo se perdem em detrimento ao antigo ato de digladiar ideologias na ilusão de ser uma solução enquanto, na verdade, tudo vai se tornando cada vez mais incipiente, diluído ou líquido parafraseando maliciosamente o sociólogo europeu Zygmunt Bauman. Forças opostas no vigor de suas disposições bem intencionadas para a ação, quando desprezam as possibilidades de uniã

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Conexão...*

Há momentos na vida que uma voz interna te chama. Nesses momentos vive-se uma profunda interação do ser interno com o ser externo. Há uma conexão!!! Encontro a paz tão desejada pela humanidade e sinto-me estranha no mundo ao redor. Parece que estou envolvida em cores que dançam ao luar, tudo soa luz. As coisas aparentemente maldosas tornam-se nada e o nada torna-se não-ser! Caminhar e decidir a direção através da intuição não é tarefa fácil, mas é preciso. E de repente, teu destino se torna tuas decisões e tuas renúncias. Entretanto, por mais insegurança que eu tenha, se o caminho que escolhi é o melhor a seguir, mais confio que o é!!! A loucura do livre arbítrio cura as mazelas da falta de responsabilidade da própria biografia. A vida se enche de artefatos, parafusos, chaves, fechaduras e portas diversas... Surge, então, uma pequena agonia, fria, vazia, sem conexão. O medo tenta invadir o coração que conquistou a paz tão desejada, porém a certeza da proteção mai

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"A sensação de que as palavras nem sempre conseguem traduzir as manifestações do espírito não é nova. Mesmo quando se pensa esclarecer adequadamente seus segredos, a natureza logo surge sob nova roupagem. Como se quisesse dizer algo mais, nas contradições a denunciar um só olhar."  "No mosaico das tentativas para ler as verdades delirantes, se demonstra a escassez das lógicas da tradição. Referencial empobrecido na diversidade dos eventos inclassificáveis ao viver singular." "As fisionomias da loucura são resultantes das intervenções do alienista, o fiscal da sociedade normal. A farmacologia e seus derivados, ao desqualificar - internando e tratando - a expressividade do louco , deslizam para a reincidência daquilo que finge evitar." "Novos paradigmas apreciam surgir nas lógicas incompreendidas." "A pluralidade subjetiva internada em uma só pessoa aprecia o caos para ensaiar releituras existenciais. Mesmo quando inadequad

Mundo perdido*

Quando saia da infância e passava para adolescência o mundo estava em trânsito, ou pelo menos parte dele. Esta parte que estava em trânsito saia do "socialismo", que muitos chamam de economia planificada ou tentativa fracassada da aplicação das teorias marxistas. Seja como for, estávamos saindo disso para o capitalismo, o restante do mundo já era capitalista. O Brasil, no mesmo período, fim da década de 80, início dos anos 90 também saia de uma ditadura e passava para a democracia. Assim, na minha transição da infância para a adolescência, o mundo também estava passando de um modelo para outro, ao menos o meu mundo. Os que já eram capitalistas desmereciam os socialistas, dizendo aos outros e a sui próprios que estavam certos e que todos deveriam fazer parte do seu modelo de vida. Nesta parte parece que nasci no tempo certo, num Brasil democrático e capitalista, mesmo que seja um país pseudo democrata e pseudo capitalista. Depois da transição vieram os ajustes, alocan

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"(...) Esse ponto, donde as vemos irredutíveis, coloca-nos no infinito, é o ponto onde o infinito coincide com lugar nenhum. Escrever é encontrar esse ponto. Ninguém escreve se não produzir a linguagem apropriada para manter ou suscitar o contato com esse ponto." "O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento." "É verdade que muitos criadores parecem mais fracos do que os outros homens, menos capazes de viver e, por conseguinte, mais suscetíveis de se espantar coa vida." "Kafka, talvez sem o saber, sentiu que escrever é entregar-se ao incessante (...)" "As lembranças são necessárias, mas para serem esquecidas, para que nesse esquecimento, no silêncio de uma profunda metamorfose, nasça finalmente uma palavra, a primeira palavra de um verso. Experiência significa, neste ponto: contato com o ser, renovação do eu nesse contato - uma prova, mas que permanece indeterminada." "(...) A escrita automática

Dispersos*

Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E deu-se este encontro. Andávamos pelas ruas da cidade tão felizes. Por fim não sabíamos mais se andávamos ou se voávamos... Corria um vento tão gostoso. A brisa balançava os cabelos dela para lá e para cá. E eu ficava com ciúme do vento e dos carinhos que ele fazia nos cabelos dela. Os estranhos eram apenas os amigos que nós ainda não conhecíamos. Nossos olhinhos diziam que todo mundo gostaria de se mudar para um lugar mágico Corríamos e soprávamos o vento andando por aí. Ríamos dos relâmpagos e dos trovões. E bebíamos as águas das tempestades. Quando nos dávamos conta do lugar onde estávamos, já tínhamos ido embora. A meia noite fechou seus olhinhos e na madrugada o canto e a dança dela impediram que eu fosse embora. E descobrimos que a palavra amor andava meio vazia, tinha tão pouca gente dentro dela.... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Aleg

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Tornar imprevisível a palavra não será uma aprendizagem de liberdade ? Que encanto a imaginação poética encontra em zombar das censuras!" "Com a poesia a imaginação coloca-se na margem em que precisamente a função do irreal vem arrebatar ou inquietar - sempre despertar - o ser adormecido nos seus automatismos." "Pelos poemas, talvez mais que pelas lembranças, chegamos ao fundo poético do espaço da casa." "(...) os poetas são nossos mestres. Com que força eles provam que as casas para sempre perdidas vivem em nós!" "Quando um sonhador reconstrói o mundo a partir de um objeto que ele encanta com seus cuidados, convencemo-nos de que tudo é germe na vida de um poeta." "Mas o verdadeiro armário não é um móvel cotidiano. Não se abre todos os dias. Da mesma forma a chave, de uma alma que não se entrega, não está na porta." "Para entrar no âmbito do superlativo, é preciso trocar o positivo pelo imaginá

A pretexto de jardins*

Existe uma fonte extraordinária onde a obra de arte decaída se encontra. Nela é visível o apelo silencioso das raridades. Nalgumas pode se notar a exuberância dos contornos, em outras a raiz mergulha na terra em busca de proteção. Ainda àquelas a lançar sementes na brisa passageira.   Quando muito próximo pode significar conviver com os espinhos uma da outra. Os sinais descrevem nuances de uma estória onde antes e agora se integram, fazendo a pétala renascer, se alternando nas estações. Sua essência plural realiza uma poesia sem palavras nesses espelhos da natureza.   Existem jardins com uma história de descuidos, maltratados uma vida inteira. Ao vivenciar alguma forma de atenção, carinho, perseguem o subsolo de si mesmos. Nesse sentido, desacostumados à luz do sol, num movimento de quase semente, se refugiam nas sombras conhecidas, cercam-se de muros, paredes de difícil acesso.   O dom da jardinagem conhece a linguagem ritual de morte e renascimento.

Tabacaria*

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo. que ninguém sabe quem é ( E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger d

Ser Mulher*

Amazonas... Correm com lobos Feiticeiras... Filhas da lua Afrodite's... Amantes e divinas Múltiplas e Universais Mãe de todos... Ser mulher é ser.... Lagos e oceanos Chuva e tempestades Fogo e estrelas Mistério e magia Noite vasta e deslumbre Todos os dias são nossos Hoje é apenas mais um.... *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Ninguém pode filosofar em seu lugar: o que eu poderia encontrar, e ainda que tal resultado me satisfizesse totalmente, ou o que Kant ou Hegel puderam encontrar, por maior que seja a genialidade deles, nada prova que valha para você! Portanto você tem de pôr pessoalmente mãos à obra, e é isso que se chama filosofar." "Ora, a sabedoria outra coisa não é que essa simplicidade de viver. Se é preciso filosofar, é para redescobrir essa simplicidade." "A eternidade é agora: não é um futuro que nos é prometido, o presente mesmo é que nos é oferecido." "Lembrando Wittgenstein: 'Se se entender por eternidade não uma duração temporal infinita, mas a atemporalidade, então vive eternamente quem vive no presente.'" "(...) a fugidia e perene eternidade do devir!" "(...) não há verdade científica: só há conhecimentos científicos, sempre relativos, sempre aproximados, sempre provisórios, sempre de algum modo duvidoso

O Bem Deliberar*

A herança de Aristóteles, filósofo grego que viveu entre 384 a.C. a 322 a.C., passa pela lógica, metafísica, biologia e até pela economia. Aristóteles foi um dos grandes influenciadores do pensamento ocidental. Há um pensamento grego atribuído a Aristóteles sobre virtude, onde se diz que “a virtude está no meio”, agora se essa ideia for tirada do contexto em que ela foi escrita, algumas pessoas acabam interpretando errado. - Você é de esquerda ou de direita? Não, eu não sou nem de esquerda nem de direita, eu sou do centro. - Você gosta de vinho ou cerveja? Então você pensa antes de responder: Não vou gostar nem de vinho, nem cerveja, vou gostar de outra coisa e algumas pessoas vão achando que ficar em cima do muro é que é ser virtuoso. Para Aristóteles, ficar em cima do muro era a pior coisa que podia acontecer. Pessoa em cima do muro só merece uma coisa, ser derrubado do muro. Essa é uma atitude que não há virtude alguma. A virtude está no meio, significa no m

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