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O menino que escrevia poesias*


Não era de flutuar nas superfícies. Primeiro mergulhava, para depois dar-se conta do perigo. Era do tipo que não conseguia não afundar. Vislumbrava as belezas nas profundezas. Sempre haveria uma salvação. Iludia-se, achando que seria acolhido nos braços das sereias. E sempre se salvara. Então, que fosse !!!!

Decidia o que deveria ser. E morria abraçado. Até se convencer do contrário, o que nem sempre era fácil. Pois achava que só se metia em coisas que valiam a pena. Sendo passarinho, virava elefante e se afastava do bando para sofrer. Doía muitas vezes, como não!! Em verdade para ele doía sempre. Então que fosse, já que tinha que ser...

Sabiam os mais próximos. Era torto das ideias. E perdido por natureza. Diziam que tinha um parafuso solto. Não sabiam que a linha de montagem ficara maluca e trocara as peças. Sua mãe que o diga. Não o teve. Achou-o encolhido num barco no meio do mar. E sorrindo, pensando no que viria....

Apegava-se as coisinhas pequeninas que os outros jogavam fora. Coisinhas de ontem, afinal o futuro ainda não podia guardar. Assim guardava amores que se negava a esquecer. Achava um lugar de conforto e cuidava. Uma pétala de rosa. Um bilhetinho amassado. Um perfume. Um olhar.....

Para o amor e o abraço, estendia as mãozinhas em forma de conchinha aberta. Entendia que o amor deve ser dado assim. Sem nada reter. De palma aberta, em oferenda. O amor, afinal, não cabe em espaços fechados. No amor guarda-se o que se deixa voar.. Eram ventos, pássaros e borboletas que voavam...
E ele guardava
O que achava
Que valia a pena....

*José Mayer
Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS

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