Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2016

O fazedor de amanhecer*

Sou leso em tratagens com máquina. Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis. Em toda a minha vida só engenhei 3 máquinas Como sejam: Uma pequena manivela para pegar no sono. Um fazedor de amanhecer para usamentos de poetas E um platinado de mandioca para o fordeco de meu irmão. Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias automobilísticas pelo Platinado de Mandioca. Fui aclamado de idiota pela maioria das autoridades na entrega do prêmio. Pelo que fiquei um tanto soberbo. E a glória entronizou-se para sempre em minha existência. *Manoel de Barros

Voo Livre*

na pausa de um instante suspiro de eternidade ninho de acolhimento gestação de liberdade tecedura de amizade no encanto da entrega encontro novas possibilidades! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Noções*

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos.   Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.   Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.   Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a Minha virtude era esta errância por mares contraditórios, e este abandono para além da felicidade e da beleza.   Ó meu Deus, isto é a minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera... *Cecília Meireles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Os criadores são banidos da vida do povo e se vêem apenas tolerados, como curiosidades marginais. Como ornamentos de adorno e extravagâncias, alheias à vida." "O mundo do espírito se transforma em cultura, em cuja criação e conservação o indivíduo procura, ao mesmo tempo, aperfeiçoar-se a si mesmo." "O presente é precisamente o que, no acontecer, desaparece." "Questões filosóficas, porém, jamais poderão ser, em princípio, resolvidas no sentido de as podermos, algum dia, extinguir." "Rússia e América, consideradas metafisicamente, são ambas a mesma coisa: a mesma fúria sem consolo, da técnica desenfreada e da organização sem fundamento do homem normal."  "A filosofia situa-se num domínio e num plano da existência espiritual inteiramente diverso. Na mesma dimensão da filosofia e de seu modo de pensar situa-se apenas a poesia." "Em razão dessa superioridade o poeta fala sempre, como se o ente se

Pedaços*

Ela era ela Que ele achava Que conhecia Mas ela era ainda outra Que ele desconhecia. Ele era ele Que ele achava Que, inteiro, oferecia Mas ele ainda desconhecia O que os outros percebiam. Afinal quem era ela? Quem, afinal, era ele? No fim das contas Afinal... Final... *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"(...) a escritura começa onde a fala se torna impossível (...)" "Há no amor por um país estrangeiro uma espécie de racismo às avessas: encantamo-nos com a diferença, aborrecemo-nos com o Mesmo, exaltamos o Outro." "Certas linguagens são como o champanha: desenvolvem uma significação posterior à sua primeira escuta, e é nesse recuo do sentido que nasce a literatura." "Um livro vem lembrar-nos de que (...) existe um prazer da linguagem, de mesmo estofo, da mesma seda que o prazer erótico, e de que esse prazer da linguagem é a sua verdade. (...)" "Repetir o exercício (ler várias vezes o texto) é liberar pouco a pouco os seus 'suplementos'" "Ora, os desvios (com relação a um código, a uma gramática, a uma norma) são sempre manifestações de escritura: onde se transgride a norma, aparece a escritura como excesso, já que assume uma linguagem que não estava prevista." "(...) Já a escritura, es

A poesia e o amor*

Só conhecemos quando temos coragem de superar as superfícies, as ilusões. Conhecimento não se conquista se ficarmos apenas nas margens ou nos lugares confortáveis e seguros. É preciso o risco do mergulho profundo e em nós mesmos para descobrirmos caminhos de superação de apegos, de angústias e de dores produto da nossa própria ignorância. É preciso mergulhar fundo em tudo que devemos aprender para concretizar sonhos sejam eles ordinários por serem comuns, sejam eles extraordinários por serem únicos. E, ainda, concomitante, é preciso sentir para escolher o que realmente faz sentido, uma vez que assim poderemos inspirar um mundo melhor naqueles que tocamos. Porventura, onde houver poesia haverá amor e, se somos mesmo continentes chamados pessoas é porque somos sim banhados por oceanos profundos que nos unem e nos fortalecem, transbordando-nos todos em um e um em todos. E somente vencendo a superfície que poderemos conhecer e nos surpreender, por exemplo, pelo fato de que d

Via Láctea*

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo? E eu vos direi: Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas. *Olavo Bilac

O sonho das palavras*

                                    Um enredo malabarista se insinua em rasuras de quase traço. O sonhar das palavras rascunha vontades, antecipa delirando aquilo desconsiderado pela razão conhecida. Seus apontamentos de estética maldita dizem mais do que consegue traduzir. Não-ser acontecendo nalgum ponto entre realidade e ficção.  Essa sensação do fenômeno ter alguma sobrevida nos termos agendados no intelecto, possui rasgos de transcendência inevitável. Parece reverenciar o lugar instante onde a exceção, o acaso, se desdobram no agora continuado.    É possível ao verso irreal conter mensagens ilegíveis. Sua referência ao texto repleto de incompletudes parece querer dizer, ao leitor atento, sobre as alternativas de reescrever-se com sua leitura. Como se fora um rascunho a silenciar sobre a linguagem da natureza da linguagem. Desvendar aspectos de renúncia em se descrever por inteiro, registrar aparecimentos, desaparecimentos diante do mesmo com vestígios do outro.

Poetando com o Mário*

Emergência* Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado. Poeminha do Contra* Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão… Eu passarinho! Relógio* O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família. *Mário Quintana

AmarAmando...*

AmarAmando Sem tons de cinzas Em tons roseosazuis No mar na floresta Em sons e tonsutis AmarAmando No céu da imaginação Tecendo aracnídeas redes Fisgando sonhos Em contos de estrelas AmarAmando No tempo presente Rasgando o peito Entregando a alma Oferencendo a Afrodite AmarAmando No compasso dionisíaco Dançando com pés descalços No rodopio do vento AmarAmando No mandala rodando o tempo Encontrando o centro no todo De mim de você de nós SendoAmor em verso múltiplo. AmarAmando Apenas sino no hino No beijo no gozo no corpo Na vida delicadamente fluindo *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"(...) não há saídas a escolher. Uma saída é algo que se inventa. E cada um inventando sua própria saída, inventa-se a si mesmo. O homem é para ser inventado a cada dia." "O poeta está fora da linguagem, vê as palavras do avesso, como se não pertencesse à condição humana, e, ao dirigir-se aos homens, logo encontrasse a palavra como uma barreira." "Assim  como a física submete aos matemáticos novos problemas, que os obrigam a produzir uma simbologia nova, assim também as exigências sempre novas do social ou da metafísica obrigam o artista a descobrir uma nova língua e novas técnicas." "(...) a cada um de nossos atos, o mundo nos revela uma face nova." "É o esforço conjugado do autor com o leitor que fará surgir esse objeto concreto e imaginário que é a obra do espírito." "(...) a leitura é criação dirigida. (...) por um lado o objeto literário não tem outra substância a não ser a subjetividade do leitor (...)

Palcos e Tramas da Vida*

Representamos o mundo com nossas emoções, sentimentos e razões, ou não. Cada ser humano representa para si aquilo que sua alma vê, sente, ama, odeia, grita, silencia... Vamos construindo nosso mundo de acordo com os nossos olhares sobre a vida e os seus desdobramentos. Uma senhora caminhava pela rua e contemplava as folhas sendo levadas pelo vento outonal... Sua amiga curiosa parou diante dela e lhe perguntou: - Porque olha com tamanha ternura para estas folhas secas e sem vida? Nisto aquela senhora com os olhos iluminados por um brilho distante respondeu: - Não são folhas! São os meus sonhos que um dia o vento levou e nunca mais consegui alcançar. Viver talvez seja está linda descoberta, de darmos significado ao momento presente, representando com nossas alegorias o que alma ainda não sabe nomear. Caminhamos pela vida representando papéis, elaborando roteiros, despedindo personagens e contratando novos atores. Nos perdemos em tramas, e buscamos sempre um final

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

(In) certos corações*

Tolo fui. Agora sei Cultivei um jardim Fora de época E as rosas que brotavam O gelo da geada gelada As queimavam a cada manhã É que havia perdido O endereço da entrega Das rosas que cuidei Suspeito que ficaram sabendo Murcham, por isso, ao tocá-las Queimam-se ao frio da geada Secam ao primeiro raio de sol Elas me entendem E sofrem comigo Neste frio gelado. Tolo fui. Errei de estação E errei de coração Deveria ter-me feito oleiro Fazendo taças de vinho de barro Reunido amigos e amados E livros e cantos e danças E junto à lareira Beber vinho para espantar O frio desta estação tão fria Uma taça de vinho Do barro da terra A alegria Os corações certos E o calor dos amigos. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Se amar bastasse, as coisas seriam simples. Quanto mais se ama, mais se consolida o absurdo. Don Juan não vai de mulher em mulher por falta de amor. É ridículo representá-lo como um iluminado em busca do amor total. Mas é justamente porque as ama com idêntico arroubo, e sempre com todo o seu ser, que precisa repetir essa doação e esse aprofundamento." "Por que seria preciso amar raramente para amar muito ?" "'O espetáculo - diz Hamlet - é a armadilha com que vu capturar a consciência do rei'. Capturar é a expressão adequada. Pois a consciência anda rápido ou recua. É preciso pegá-la no voo, no momento inapreciável em que lança um olhar fugidio sobre si mesma." "Sabendo que não há causas vitoriosas, gosto das causas perdidas: elas exigem uma alam inteira, tanto na derrota quanto nas vitórias passageiras." "Ao mesmo tempo, sua única força é a criação contínua e inapreciável à qual se entregam, todos os dias de su

O coração e as palavras*

Andavam de um lado para o outro. Corriam, juntavam-se e separavam-se. Grupos de três, quatro ou um bando. Revezavam-se e trocavam de lugar, mas ele ria-se delas! Ria-se o coração, das palavras tentando dizer o que nele havia. A certa altura, com ar cansado e condescendente, chamou-as para acompanhá-lo a um passeio. Levou-as a um parque, com flores de muitas cores, árvores ao redor de uma balaustrada branca que cercava uma área de grama verde, sobre a qual brincavam um menininho e dois cachorros, um maior e outro menor. Divertia-se muito o menino, corria, tropeçava e caía para em seguida ser completamente lambido pelos amigos abanando seus rabos felizes! - Viram? Disse ele. - É isso! Então, algumas se foram desconsoladas. Outras ficaram pra contemplar a cena mais um pouco, e, rendidas finalmente, concluíram que embora sentissem exatamente o que era, seriam incapazes de dizer aquilo! Foram-se algumas, decididas que dali por diante iriam bailar, melhor era divertirem-

Por Não Estarem Distraídos*

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande po

Localização Existencial I*

Onde habitam nossos pensamentos ? Talvez você nunca tenha parado para perceber a localização das coisas que lhe constituem enquanto sujeito. Talvez nunca tenha parado para localizar o seu pensamento, as suas emoções, as suas sensações. Talvez acredite que seu corpo estar em um lugar signifique que você também ali esteja, não é? Trabalho em consultório com um método denominado Filosofia Clínica. Nele há algo chamado de Espacialidade, ou seja, a localização daquilo que habita dentro de cada um de nós. É algo simples e que pode nos livrar de uma série de problemas. Certas queixas relacionadas a este assunto têm trazido muitas pessoas ao consultório ultimamente. Entre as frases que mais lhes exemplificam estão estas: nada tem graça nessa vida; não consigo curtir as coisas; não me sinto em paz esteja onde estiver; meus pensamentos não me deixam dormir; parece que nunca consigo descansar, sentir paz. Muitos destes sujeitos relatam uma constante sensação de que elementos sens

Motivo da rosa*

Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim.   Rosas verá, só de cinzas franzida, mortas, intactas pelo teu jardim.   Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim.   E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim. *Cecília Meireles

Descrituras*

                                         Uma redação se faz página cotidiana na vida de qualquer pessoa, quer ela entenda ou não. Algo que restaria esquecido, não fora a ousadia semiótica a tentar decifrar essa trama de códigos imperfeitos. Por esse esboço a lógica descritura se incompleta para prosseguir inconclusa, aberta, viva. Nem sempre se escolhe escrever, muitas vezes são as palavras a escolher você para dizer suas coisas. Conteúdos de rascunho, ilação, percepção extemporânea de ideias, reflexão. Aproximações com a zona interdita das margens de cada um. O tempo aprecia conceder eficácia de tradução aos traços persistentes. O sujeito prisioneiro dessa armadilha conceitual experimenta liberdades nem sempre possíveis de mencionar na forma retórica. A relação do universo singular com o mundo dos outros aprecia se realizar em manuscritos compartilhados. A trama constitutiva dos termos agendados exibe escolhas se desenvolvendo na pessoa fonte de vivências, como trân

Embriaguem-se*

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se. E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se!  Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".  Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. *Charles Baudelaire

Visitas