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Filosofia e Poesia***


Pode haver entre a filosofia e a poesia uma afinidade secreta. Mas também uma secreta decepção. Algumas vezes a filosofia promete mais do que pode cumprir.

A poesia, por sua vez, tenta fazer coincidir uma delícia do ouvido com uma delícia do espírito. A filosofia, por vezes, não consegue produzir a mesma satisfação sensível que a poesia.

A poesia assemelha-se a uma graça que ultrapassa o querer e que foge tão logo este queira aprisiona-lo: uma derrota do querer, ao tentar ter o controle. O que se propõe o poeta, muda de sinal e de tonalidade e o que lhe é oferecido e o que oferece é bem mais do que poderia esperar.

A alegria maior que a poesia pode proporcionar é ser vencido por ela. Ultrapassa aquilo que se propôs. O poeta, por sua vez, sente-se tomado de uma certa vergonha ao se deixar surpreender por uma emoção que ele mesmo não previu. Abre-se uma lacuna entre aquilo que o poeta quis e o que ele fez... É o que poderíamos chamar de inspiração. Cria-se uma satisfação e uma cumplicidade entre o real e a criação poética. O poeta acaba sendo vítima de um certo "feitiço" que encanta o universo, assim como encanta a ele próprio.

A filosofia, na maioria das vezes, tentou tão somente explicar este encontro, de forma sistemática e crítica. Houve belas tentativas de uma aproximação e cumplicidade entre filosofia e poesia. Sobra uma pergunta: se enriqueceriam ou se empobreceram, uma ou outra, com esta cumplicidade?

*José Mayer
Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS

**Inspirado em "Ciência, Estética, Metafísica" - Louis Lavelle

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