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Fragmentos Filosóficos, Poéticos, Delirantes*


"A matriz aberta desses poemas permitia vários percursos de leitura, na vertical ou na horizontal, isolando e destacando blocos, ou já os integrando, alternativamente, com outras partes componentes da peça, através de relações de semelhança ou proximidade."

"Os críticos, boa parte deles, responsáveis por essa petrificação mental, praticam uma hermenêutica de cemitério, precavendo-se cautelosamente para que nenhum oxigênio de vida, nenhuma dissonância de invenção, perturbe o ar ázimo e a paz de nafta de seus columbários cumpridamente etiquetados, classificados e inanizados, que são as obras de arte 'reconhecidas': para eles, o presente artístico só conta na medida em que possa ser, rapidamente, mumificado em passado."

"A língua é apenas um dos sistemas de signos e a linguística tão-somente uma das províncias da semiótica. Esta é a colocação que nos parece mais fecunda e aberta. Realmente, a adoção da linguagem verbal como padrão absoluto e tirânico de todos os demais sistemas de signos, a redução destes à condição de sistemas heterônomos, pode levar a descaminhos perigosos e empobrecedores."

"(...) signo é qualquer coisa que está para quem quer que seja em lugar de qualquer outra coisa, sob qualquer aspecto ou capacidade. (...) signo é uma transmissão pela qual um organismo afeta outro numa situação de comunicação."

"O que caracteriza a função poética é, assim, um uso inovador, imprevisto, inusitado das possibilidades do código da língua."

"E Chomsky, do ponto de vista da gramática gerativa ou transformacional, põe a ênfase no aspecto criador da linguagem, ao nível de sua utilização corrente, dizendo que as coisas se passam como se o sujeito falante inventasse de certa maneira a língua à medida que se fosse exprimindo ou a redescobrisse à medida que a fosse ouvindo falar em seu redor, tendo como que assimilado à sua própria substância pensante um código genético, espécie de matriz aberta que possibilita a interpretação semântica de um conjunto indefinido de frases."

"A esse teor de inovação, Eco chama abertura da mensagem estética. Ou como quer Max Bense: 'a informação estética transcende a semântica (referencial) no que diz respeito à surpresa, à improbabilidade, à imprevisibilidade da ordenação dos signos."

"As regras nascem quando falta quem pense. (...) O mal de nossa época é que a poesia já esteja reduzida a arte, de modo que, para ser verdadeiramente original, é preciso romper, violar, desprezar, deixar de parte inteiramente os costumes e os hábitos e as noções de normas, de gêneros, etc.., recebidas de todos."

*Haroldo de Campos in "A arte no horizonte do provável". Ed. Perspectiva. SP. 1977 

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