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Os Opostos*


Os Opostos se atraem, dizem
Ele lutava com os opostos
Dia a dia
Dentro de si.

Para ele não havia vida na linha do equador. Havia, sim, vida acima ou abaixo do equador. Viver na linha mediana, para ele, era não viver. Definhava sob o ar condicionado. Fugia do meio termo como o capeta foge da cruz. O morno nem o esquentava, nem tampouco, o esfriava. O morno cheirava a mofo. Se negava a jogar no meio de campo. Fechava as balizas de um lado, ou estufava as redes do outro. Na loteria da vida não marcava a coluna do meio. Mas existiam empates.

Quem o conhecia sabia.

Seu "oito" era um grãozinho de areia. Um fiozinho de fumaça que sumia. Uma miragem de nevoeiro que sumia. Um pedacinho de nuvem quebrada que sumia num buraco negro. Diminuto, virava diminutivo e se transformava em Mínimo Múltiplo Comum. Virava nada, nada fazia e repousava nas espumas das águas do nada.

Mas não se entregava
Há que inventar a vida a cada dia.

Seu "oitenta" era mil. Um milhão. Zeros ao infinito. Aumentativo, virava superlativo e procurava algum Máximo Divisor Comum. Voava, sem ser pássaro. Nadava, sem ser peixe. Virava tempestades... leves. Virava terremotos... leves. Virava tsunamis... leves e suaves. Só para levar um susto. Não para destruir. Mas para pintar tudo de um colorido novo. Para recomeçar maior e melhor. Para acolher e envolver de outra forma. E fazer crer que assim a vida vale a pena. Afinal a vida pode ser assim como nós a fazemos.

Pensava o impensável
Dizia o inominável
Escrevia o inimaginável
E via tudo aquilo que Deus ainda não havia criado.
E que os homens ainda não acreditavam.

*José Mayer
Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS

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