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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Não se pode estudar à parte a imagem mental. Não há um mundo das imagens e um mundo dos objetos. Mas todo objeto, quer se apresente à percepção, quer apareça ao sentido íntimo, é suscetível de funcionar como realidade presente ou como imagem, segundo o centro de referência escolhido. Os dois mundos, o imaginário e o real, são constituídos pelos mesmos objetos; só variam os agrupamentos e a interpretação desses objetos. O que define o mundo imaginário tanto quanto o universo real é uma atitude da consciência." 

"(...) quando se faz da palavra tal como aparece na linguagem interior uma imagem mental, faz-se do signo uma imagem."

"(...) as visões hipnagógicas são imagens. caracteriza a atitude da consciência diante dessas aparições com as palavras 'espetacular e passiva'. É que ela coloca como de fato existentes os objetos que lhe aparecem. Todavia, na base dessa consciência há uma tese positiva: se essa mulher que atravessa meu campo visual, quando meus olhos estão fechados, não existe, pelo menos sua imagem existe. Alguma coisa aparece para mim que representa uma mulher. Frequentemente, a própria imagem se apresenta como mais nítida do que seu objeto."

"Ler é realizar nos signos o contato com o mundo irreal. Nesse mundo há plantas, animais, campos, cidades, homens: em primeiro lugar aqueles de que o livro trata e depois uma porção de outros que não são nomeados, mas que estão no fundo e dão espessura a esse mundo."

"(...) não se trata aqui de um saber imaginante vazio: a palavra desempenha muitas vezes o papel de representante  sem abandonar o de signo, e estamos lidando, na leitura, com uma consciência híbrida, meio significante e meio imaginante."

"O ato de imaginação, como acabamos de ver, é um ato mágico. É um encantamento destinado a fazer aparecer o objeto no qual pensamos, a coisa que desejamos, de modo que dela possamos tomar posse. Nesse ato, há sempre algo de imperioso e infantil, uma recusa de dar conta da distância, das dificuldades. Dessa forma, a criança, em seu leito, age sobre o mundo com ordens e preces. A essas ordens da consciência os objetos obedecem: aparecem. Mas têm um modo de existência muito particular (...)"

*Jean-Paul Sartre in "O imaginário". Ed. Ática. SP. 1996.  

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