Pular para o conteúdo principal

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"O 'poético' é exatamente a capacidade simbólica de uma forma; esta capacidade só tem valor se permite à forma 'partir' para um grande número de direções e manifestar, assim, potencialmente, o infinito caminho do símbolo, de que nunca se pode fazer um significado último e que é, em suma, sempre o significante de um outro significante (...)."

"(...) o sentido depende do nível em que o leitor se coloca."

"(...) sobre o papel - e devido ao papel - o tempo está em perpétua incerteza."

"Mudar o nível de percepção: trata-se de um choque que abala o mundo classificado, o mundo nomeado (o mundo reconhecido) e, por conseguinte, libera uma verdadeira energia alucinatória."

"(...) a metáfora é a única maneira de nomear o inominável (transforma-se, então, em catacrese): a cadeia de nomes substitui o nome que falta."

"Ora, é mais ou menos o que ocorre na cura analítica: a própria ideia de 'cura', inicialmente muito simples, transforma-se, torna-se distante: a obra, como a cura, é interminável: trata-se. em ambos os casos, menos de obter um resultado do que modificar um problema, isto é, um tema: livrá-lo da finalidade em que se encerra seu início."  

"(...) o corpo dispensa o sujeito e a pintura de Réquichot vai, então,, ao encontro do que seria a extrema vanguarda: aquela que não é classificável e cujo caráter psicótico a sociedade denúncia, pois que, assim fazendo, pode, pelo menos, nomeá-la."

"A voz humana é, na verdade, o espaço privilegiado (eidético) da diferença: espaço que escapa a todas as ciências, pois nenhuma ciência (fisiologia, história, estética, psicanálise) é capaz de esgotar a voz: classifiquem, comentem historicamente, sociologicamente, esteticamente, tecnicamente a música, restará sempre algo, um suplemento, um lapso, um som dito que se designa a si próprio: a voz." 

"É necessário lembrar que a classificação das vozes humanas - como toda classificação elaborada por uma sociedade - nunca é inocente."

"Esta passagem - esta transgressão - faz da música uma loucura: não apenas a música de Schumann, mas toda a música. Comparado ao escritor, o músico é sempre louco (e o escritor não o pode ser, pois está condenado ao sentido)."

*Roland Barthes in "O óbvio e o obtuso". Ed. Nova Fronteira. RJ. 1990

Comentários

Visitas