Onde começo, onde
acabo,
se o que está fora está
dentro
como num círculo cuja
periferia é o centro?
Estou disperso nas
coisas,
nas pessoas, nas
gavetas:
de repente encontro ali
partes de mim: risos,
vértebras.
Estou desfeito nas
nuvens:
vejo do alto a cidade
e em cada esquina um
menino,
que sou eu mesmo, a
chamar-me.
Extraviei-me no tempo.
Onde estarão meus
pedaços?
Muito se foi com os
amigos
que já não ouvem nem
falam.
Estou disperso nos
vivos,
em seu corpo, em seu
olfato,
onde durmo feito aroma
ou voz que também não
fala.
Ah, ser somente o
presente:
esta manhã, esta sala.
*Ferreira Gullar
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