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Invisibilidades*


Um reflexo parece dizer sobre se estar dentro da vida e fora do tempo, como uma ficção exilada na realidade. Ao ter uma epistemologia de subúrbio, sua filosofia da estranheza esboça um soar excessivo.

A atitude introspectiva refaz manuscritos sobre o fenômeno à deriva no traço. Interseção extraordinária entre o lapso das travessias e as poéticas do absurdo. Atualiza a visão desses delicados contornos a se deslocar, parece reivindicar uma arte de tornar-se.

A partir desse sujeito transbordando originais, os excepcionais eventos integram a irrealidade presente no cotidiano. Esse esboço de eus ficaria irreconhecível, não fora essa tradução nas entrelinhas de ir e vir.

O estrangeiro de cada um se oferece nos trocadilhos, distorções, contradições quase imperceptíveis, muitas vezes em labirintos de lógica kafkiana, onde os delírios rascunham essa aptidão de estar inteiro a cada momento.

Talvez a pessoa, na descrição inédita para si mesma, consiga dar visibilidade a essas raridades. A releitura, ao apontar o movimento de toda permanência, pluraliza combinações, oferece alternâncias pelos vãos manuscritos de si mesma. Sua designação de caráter flutuante ressoa nas palavras sem sentido. Assim pode sair de um lugar a outro, pluralizar horizontes.

As práticas de ser singular se sustentam entremeios de incertezas, suspeitas sobre esse estranho na própria casa. Uma subjetividade assim descrita possui lógicas de centro e periferia, desloca-se quase invisível pelas sucessivas vizinhanças. Em seu mundo, arrumar as malas significa reinventar caminhos. Nessas frequências internadas na rua, a quimera do olhar itinerante multiplica liberdades. Sua contradição, ao referir outras verdades diante do espelho, deixa muito sem se dizer. Um exercício exótico aos códigos conhecidos.

A utopia vivenciada no mundo das ideias ameaça, em sua vertigem especulativa, descobrir recantos, prescrever amanhãs. Parece um lugar onde a natureza existe antes da palavra. Sua inquietude precursora embala novos vocabulários, sua pronuncia reivindica uma leitura visionária, viajantes a transpor fronteiras.

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico da Casa da Filosofia Clínica

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