Há muito, muito tempo
começamos a gestar o micróbio da realidade que temos agora. Os anos
calcificaram tanto a percepção até não mais lembrarmos que as agruras
enfrentadas são justamente os males um dia pensados, materializados nas
condições físicas e materiais do entorno ora vil.
Um ditado para isso:
“cuidado com o que desejas, pois pode se realizar”. Naquele tempo, não se sabia
do “Segredo”, essa geração espontânea a partir do pensamento. E foi-se, dia
após dia, não podendo mudar as circunstâncias nem a si mesmo, elaborando pragas
e perjúrios, fornecendo substância para o que seria, no meio da jornada, uma
pedra oca a guardar a escuridão.
Numa estrada de terra
no meio do quase nada, o motorista diz: “Olhe como são as coisas. Quando eu era
menino, ficava andando nas estrada no Ceará, andava muito mesmo; de vez em
quando, pegava carona e eu pensava – ainda vou dirigir um carro por essa terra
toda. E hoje to aqui, sou motorista”. Por isso a gente precisa planejar o que
quer. E livrar-se do mal, que é o mesmo pensamento. Se o desejo afetará
negativamente alguém, não pode se realizar, ou será magia negra e virá
acompanhado sabe-se lá de que outro pesar.
Ocidente maniqueísta.
Parece que tudo vindo do oriente é melhor. A noção do uno, somos todos um. Mas
quem é quem está do lado? De que importa viver com a mínima consideração pelos
sofrimentos espalhados pelos caminhos, as joaninhas andando lentamente sobre as
plantas, igualmente massacradas pelas crianças que pisam nas lesmas, quando não
vítimas de sal.
Pois bem, chega um
momento em que cada um que envelhece – caso viva tanto – se torna a lesma com
sal e já não se volve solene e flexível sobre a terra. A alimentação por ar ou
nutrientes e a excreção lhe serão difíceis e aos poucos seu corpo endurecerá
como tábua, precisando de ajuda, que é piedade.
Mas cada década revela
a menor importância que cada um tem como gente, enquanto não se transforma em
cyborg portador de novidades e distrações continuamente, com uma tela na altura
dos olhos. É tempo de se recolher e olhar para dentro.
*Vânia Dantas
Poetisa. Filósofa Clínica
Uberlândia/MG
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