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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) a percepção é apenas um início de ciência ainda confusa. A relação da percepção com a ciência é a mesma da aparência com a realidade. Nossa dignidade é nos entregarmos à inteligência, que será o único elemento a nos revelar a verdade do mundo"

"(...) a física da relatividade confirmar que a objetividade absoluta e definitiva é um sonho ao nos mostrar cada observação rigorosamente dependente da posição do observador, inseparável de sua situação, e ao rejeitar a ideia de um observador absoluto"

"Isso em nada diminui a necessidade da pesquisa científica e combate apenas o dogmatismo de uma ciência que se considerasse o saber absoluto e total"

"As coisas não são, portanto, simples objetos neutros que contemplaríamos diante de nós; cada uma delas simboliza e evoca para nós uma certa conduta, provoca de nossa parte reações favoráveis ou desfavoráveis, e é por isso que os gostos de um homem, seu caráter, a atitude que assumiu em relação ao mundo e ao ser exterior são lidos nos objetos que ele escolheu para ter à sua volta, nas cores que prefere, nos lugares onde aprecia passear"

"Voltamos a ficar atentos ao espaço onde nos situamos e que só é considerado segundo uma perspectiva limitada, a nossa, mas que é também nossa residência e com o qual mantemos relações carnais - redescobrimos em cada coisa um certo estilo de ser que a torna um espelho das condutas humanas"

"Só sentimos que existimos depois de já ter entrado em contato com os outros, e nossa reflexão é sempre um retorno a nós mesmos que, aliás, deve muito à nossa frequentação do outro"

"O que aprendemos de fato ao considerar o mundo da percepção ? Aprendemos que nesse mundo é impossível separar as coisas de sua maneira de aparecer"

"Quando nos falam de obra clássica como uma obra acabada, devemos lembrar-nos que Leonardo da Vinci e muitos outros deixavam obras inacabadas, Balzac considerava indefinível o famoso ponto de maturidade de uma obra e admitia que, a rigor, o trabalho, que sempre poderia ser prosseguido, só é interrompido para deixar alguma clareza à obra, que Cézanne, que considerava toda a sua pintura como uma aproximação do que ele buscava, fornece-nos contudo, mais de uma vez, o sentimento de acabamento ou de perfeição"

*Merleau-Ponty in "Conversas - 1948". Ed. Martins Fontes. SP. 2004.

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