A rigidez do raciocínio
bem estruturado, nos relatos da palavra definida, abriga um dizer de natureza
inconformada. Antítese da comunicação inicial, esse teor descompassado, ao ser
contradição, prescreve novos rituais para comunicar. As propostas por
desmerecê-lo reafirmam sua natureza de transgressão. Seu rumor de não palavra,
ao ser dizível, aponta uma estética da desrazão.
Esses relatos
interditos na expressividade buscam emancipar as fronteiras discursivas. Sua
desconformidade inaugura espaços, oferece ambientes para novos experimentos
narrativos. Ao quebrar protocolos emancipa aquilo por vir. A palavra dialética
contém em si mesma: afirmação e negação. Um território com cheiro de terra nova
se apresenta em cada página.
Na ruptura com aquilo
que já foi novidade, se empenha em querer mais. Acolhe as dinâmicas da crise
como um anúncio. Sua referência de inspiração são as autogenias precursoras. Ao
dizer não a rigidez do discurso completo, bem acabado, sua alternativa é uma
poética das incompletudes. Sua ótica de reverência à vida persiste em ser
ensaio criativo.
Nessa arte de
evidenciar frestas se rasura a norma definitiva. Suas vírgulas, espaços em branco,
acenam um devir de raridades. Sua lógica subversiva, ao denunciar refúgios na
palavra consentida, equivale a uma premonição. Assim é possível vislumbrar algo
mais além de fracassos, acertos, dúvidas. São muitas as invenções contidas na
desorganização preliminar do sujeito. Sua força emancipadora reside nos
anúncios de originalidade.
Sua intencionalidade de
negação faz girar a vida aprisionada nas teses de sentido único. A ideia, ao
sair de si mesma, desconstrói certezas para inaugurar verdades. Desse ponto de
vista uma transcendência parece flertar com os descaminhos do cotidiano. Quiçá
um devir a flanar entremeios da rigidez discursiva, significando-se como arte a
emancipar fronteiras.
*Hélio Strassburger
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