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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*












"Se possuem alguma fórmula ela certamente não é explicativa, e o prefiro não continua sendo uma fórmula cabalística, assim como a do Homem do subsolo, que não pode impedir que 2 e 2 sejam igual a 4, mas que não se resigna a isso (prefere não 2 e 2 sejam igual a 4). O que conta para um grande romancista, Melville, Dostoievski, Kafka ou Musil, é que as coisas permaneçam enigmáticas e, contudo, não-arbitrárias: em suma, uma nova lógica, plenamente uma lógica, mas que não nos reconduza à razão e que capte a intimidade da vida e da morte"

"Vemos claramente por que o real e o imaginário tinham de ser superados, ou mesmo intercambiar-se: um devir não é imaginário, assim como uma viagem não é real. E o devir que faz, do mínimo trajeto ou mesmo de uma imobilidade no mesmo lugar, uma viagem; e é o trajeto que faz do imaginário um devir. Os dois mapas, dos trajetos e dos afetos, remetem um ao outro"

"(...) explorar os meios, por trajetos dinâmicos, e traçar o mapa correspondente. Os mapas dos trajetos são essenciais à atividade psíquica"

"O trajeto se confunde não só com a subjetividade dos que percorrem um meio mas com a subjetividade do próprio meio, uma vez que este se reflete naqueles que o percorrem"

"A questão não é a dos dois indivíduos, os dois autores, mas de dois tipos de homem, ou de duas regiões da alma, de dois conjuntos inteiramente diferentes"

"Chega às novas figuras quem sabe transpor o limite. Talvez Wolfson permaneça na margem, prisioneiro da loucura, prisioneiro quase razoável da loucura, sem poder arrancar de seu procedimento as figuras que ele apenas entrevê, pois o problema não consiste em ultrapassar as fronteiras da razão, e sim em atravessar como vencedor as da desrazão (...)"

"(...) uma linha de feitiçaria que foge ao sistema dominante, Kafka faz o campeão de natação dizer: falo a mesma língua que você e, no entanto, não compreendo sequer uma palavra do que você diz"

"A neurose, a psicose não são passagens de vida, mas estados em que se cai quando o processo é interrompido, impedido, colmatado. A doença não é processo, mas parada do processo, como no 'caso Nietzsche'"

*Gilles Deleuze in "Crítica e Clínica". Editora 34. SP. 2004.

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