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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"De minha parte, só me sinto viver e pensar dentro de um quarto onde tudo é criação e linguagem de vidas profundamente diferentes da minha, de um gosto oposto ao meu, onde não encontro nada de meu pensamento consciente, onde minha imaginação se exalta sentindo-se mergulhada no âmago do não eu (...)"

"Lembrando Descartes: 'A leitura de todos os bons livros é como uma conversa com as pessoas mais virtuosas dos séculos passados que foram seus autores"

"(...) a diferença essencial entre um livro e um amigo não é seu maior ou menor grau de sabedoria, mas a maneira pela qual nos comunicamos com eles; a leitura, ao contrário da conversação, consiste para cada um de nós em tomar conhecimento de um outro pensamento, mas estando sozinho, isto é, continuando a gozar da força intelectual de que usufruímos na solidão e que a conversa dissipa imediatamente, continuando a poder ser inspirados, a permanecer em pleno trabalho fecundo do espírito sobre ele mesmo"

"A leitura está no limiar da vida espiritual; pode nela introduzir-nos, mas não a constitui"

"(...) a leitura age apenas à maneira de uma incitação que em nada pode substituir-se à nossa atividade pessoal"

"Enquanto a leitura for para nós a iniciadora cujas chaves mágicas abrem no fundo de nós mesmos a porta de moradas em que não conseguiríamos penetrar, seu papel em nossa vida será salutar"

"(...) O gosto pelos livros parece crescer com a inteligência"

"Depoimento de Céleste Albaret (governanta de Marcel Proust): 'Mas a maioria era gente vulgar (...) Depois de ter vivido num mundo maravilhoso eu não sabia mais me adaptar às pessoas comuns'"

"Lembra Céleste: 'Hoje entendo a busca de M. Proust, todo o sacrifício da sua obra: foi o de se retirar fora do tempo para poder reencontrá-lo'"

"Para Céleste: 'Costumo dizer que este foi o melhor teatro a que pude assistir em toda a minha vida. Esse jeito que M. Proust tinha de me comunicar um mundo que eu jamais conheceria de perto, de me transportar para dentro das histórias que contava, era como se quisesse segurar o tempo para não deixá-lo fugir, levando seus personagens. Ele falava, e o tempo parava naquele quarto'"

*Marcel Proust in "Sobre a leitura - seguido do depoimento de Céleste Albaret". Ed. L&PM Pocket.

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