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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) o sonho se fizera realidade, e ele, que antes o desejara surpreendia-se agora e não o reconhecia porque antes tinha um aspecto totalmente diverso"

"Em sua vida de preceptor solitário nunca soubera conformar seus pensamentos e palavras aos ouvidos a que eram dirigidos e, em vão, muitos anos antes, tentara sair de seu casulo e comunicar-se com as gentes (...) Agora, ao contrário, como era agradável evitar a palavra ou melhor o conceito difícil, e dar-se a compreender"

"Amante das imagens, via sua própria vida como um caminho reto, uniforme, atravessando um vale tranquilo; no ponto em que encontrara Angiolina, o caminho se curvava, desviava-se para uma paisagem de árvores, flores e colinas. Um breve trecho apenas; depois retornava ao vale, ao fácil caminho, plano e seguro, tornado menos tedioso pela recordação do intervalo encantador, colorido, fatigante talvez"

"(...) Emilio sentia uma satisfação completa com a posse incompleta daquela mulher"

"(...) contudo, jamais sentira o desânimo do insucesso. Contentava-se com o consenso de um ou outro artista isolado, admitindo que a própria singularidade devia impedir-lhe um sucesso amplo, a aprovação das massas, e assim foi levando a sua vida a perseguir um certo ideal de espontaneidade de desejada rudeza, uma simplicidade"

"Veio-lhe um sentimento que há tantos anos não tinha provado, de compor, de arrancar de seu íntimo palavras e ideias: um refrigério que dava àquele momento de sua vida nada alegre um aspecto estranho, inesquecível, de pausa, de paz. A mulher o despertara!"

*Italo Svevo in "Senilidade". Ed. Nova Fronteira. RJ. 1982.

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