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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"No líquido, os opostos passam mais facilmente um no outro. O líquido é o elemento do Phármakon. E a água, pureza do líquido, se deixa o mais facilmente, o mais perigosamente, penetrar e depois de corromper"

"Lembrando Górgias: 'A potencia do discurso tem a mesma relação com a disposição da alma que a disposição das drogas com a natureza do corpo. Da mesma forma que algumas drogas evacuam do corpo alguns humores, cada uma o seu, e umas estancam a doença, outras a vida; do mesmo modo alguns discursos afligem, outros revigoram, uns aterrorizam, outros animam os auditores; outros, por uma má persuasão, drogam a alma e a enfeitiçam"

"(...) o lógos é um ser vivo selvagem, uma animalidade ambígua. Sua força mágica, farmacêutica, deve-se a esta ambivalência, e isso explica que ela seja desproporcionada a esse quase nada que é uma fala" 

"Ainda Górgias: 'Os encantamentos inspirados pelos deuses através das palavras trazem o prazer, afastam o luto. Confundindo-se, de imediato, com o que a alma pensa, a potência de encantamento a seduz, persuade e transforma pela fascinação (...)'"

"A escritura não é melhor, segundo Platão, como remédio do que como veneno. Antes mesmo que Thamous anuncie sua sentença pejorativa, o remédio é inquietante em si. É preciso, com efeito, saber que Platão suspeita do phármakon em geral, mesmo quando se trata de drogas utilizadas com fins exclusivamente terapêuticos, mesmo se elas são manejadas com boas intenções, e mesmo se elas são eficazes como tais. Não há remédio inofensivo. O Phármakon não pode jamais ser simplesmente benéfico"

"(...) Thot repete tudo na adição do suplemento: suprindo o sol, ele é outro que o sol e o mesmo que ele; outro que o bem e o mesmo que ele, etc.. Tomando sempre o lugar que não é o seu, e que se pode chamar também o lugar do morto, ele não tem lugar nem nome próprios. Sua propriedade é a impropriedade, a indeterminação flutuante que permite a substituição e o jogo"

"(...) O lógos, ser vivo e animado, é também um organismo engendrado" 

*Jacques Derrida in "A farmácia de Platão". Ed. Iluminuras. SP. 2005.

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