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O homem como objeto abstrato da ciência*


O positivismo não é criticado pelo valor que a ciência possui ou adquiriu na sociedade. O problema não é a ciência, que demonstra a cada dia seu valor a partir das suas conquistas e resultados. O problema da mentalidade positivista está postular o conhecimento científico como o único possível e aplicável a todos os âmbitos da realidade, inclusive às relações humanas e sociais em geral.

O grande problema de reduzir todo o conhecimento ao científico está em despersonalizar o homem. Pois, para que o homem seja o centro de referência da investigação científica, ele precisa ser concebido de modo abstrato. Ou seja, o homem é despojado de suas determinações singulares, reduzindo-se a um objeto de investigação. Mais do que isso, ele é convertido a um sujeito formal e genérico e inserido em uma rede de relações abstratas e estruturas quantitativas.

Desse modo, a mesma ciência que tem como procedimentos metodológicos o trabalho com esquemas, mensuração, repetição, relações e regularidades, toma tudo o que é próprio e exclusivo do sujeito e o elimina ou deprecia uma vez que não possui importância para a pesquisa.

Um exemplo disso pode ser tomado da medicina. O médico não conhece todos os corpos humanos. Ele tem um conhecimento geral, no qual aprende a estrutura corporal humana por meio de um modelo universal. Quando encontra com um paciente concreto, o médico compara o corpo do paciente à estrutura corporal de um ser humano normal e abstrato que ele aprendeu. Na medida em que esse humano concreto não se enquadra na estrutura geral e regular, percebe que algo não está funcionando bem. Diante disso, o médico buscará consertar, curar, normalizar ou regularizar essa anomalia.

No caso de um procedimento médico, essa visão científica do ser humano é boa e eficaz. Todavia, essa perspectiva não deve ser aplicada a todas as questões humanas. Pois, algumas questões decisivas, próprias ou individuais, características da existência, encontram-se de modo singular em cada sujeito. 

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo
Filósofo. Educador. Escritor. Filósofo Clínico
Teresópolis/RJ

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