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Quem é o Filósofo Clínico e quem é o Partilhante na concepção de Hélio Strassburger*


Parte I

Entre as reflexões, conceituações e concepções sobre quem é o filósofo clínico e quem é o partilhante podemos citar, antes de qualquer outra, a do sistematizador da Filosofia Clínica, Lúcio Packter. Para ele, há não apenas a definição de quem é o filósofo clínico, mas sua possível identidade:

“O filósofo clínico é inicialmente o estudante de filosofia disposto a compartilhar um caminho incerto com outras pessoas, a atuar filosoficamente em cada endereço desse caminho tal, pois é em cada endereço que sua identidade se modela. Partilhando um período da existência de outro ser, sob a responsabilidade que o nomeou filósofo, sua identidade reside em sua posição dentro da situação vivenciada.” (PACKTER, 1997)

Ao prestar mais esclarecimentos sobre a sua concepção da identidade do filósofo clínico Packter acrescenta-lhe três características básicas: um amigo que lança mão de seus conhecimentos filosóficos com o objetivo de ajudar na terapia; um pesquisador das filosofias terapêuticas; e ainda como “um partilhante emprestando as teorias filosóficas a pessoas em suas especificidades” (Packter, 1997). Neste último aspecto podemos perceber que o filósofo clínico também sua parcela de partilhante. Deve, então, ele mesmo estar disposto a partilhar seus conhecimentos.

Em relação exclusivamente ao partilhante Packter diz ser àquele que procura o filósofo para “partilhar” com ele suas vivências. Mas afirma, porém que: “a relação filósofo/partilhante é uma relação essencialmente de amizade. Cabe ao filósofo ter os cuidados de somente aceitar como partilhante alguém que em sua existência ocuparia de certo modo, um tal lugar, reservado à amizade.” (Packter p.5). Seria necessário aqui, para aclarar o que Packter entende por amizade, um enraizamento de termo, já que o conceito de amizade pode ter várias definições e para cada pessoa pode ter significação diferente, além de também se levar em conta o peso subjetivo do conceito e sua significação na malha intelectiva de cada filósofo clínico. Por isso fica-nos a interrogação: o que é amizade para Packter? Além disso, é necessária a amizade nas relações profissionais?

Esta é uma questão aberta, pois há os que defendem a relação de amizade e os que podem entender que, ser filósofo clínico é exercer um papel existencial e, por isso, não há que se ter uma relação de amizade. A filósofa clínica Monica Aiub nos apresenta uma concepção com o olhar voltado ao partilhante.

Vejamos:

“...o filósofo clínico é aquele com quem a pessoa partilha sua vida, suas questões, é um profissional apto a pensar junto com a pessoa, auxiliando-a a refletir sobre si mesma e sobre o mundo que a rodeia, levantando, com ela, opções, outras possibilidades para lidar com suas questões cotidianas.” (AIUB, 2004)

Em sua concepção Aiub não faz referência a amizade. Ou seja, o filósofo clínico, diferentemente da concepção Packteriana, não precisa estabelecer necessariamente uma relação de amizade com o partilhante. De partilha sim, porém Aiub nada refere à relação essencialmente de amizade. Logo, o olhar de Mônica sobre quem é quem na clínica filosófica, é colocado pelo ponto de vista da pessoa que procura o profissional com quem deseja partilhar suas questões existenciais. Ou seja, o filósofo clínico é quem ajuda a pessoa que o procura. A filósofa também não faz referência sobre o filósofo partilhar algo de si, como pessoa singular, somente aos seus conhecimentos metodológicos.

Já para Margarida Nichele Paulo (1999), filósofo clínico e partilhante não se distinguem propriamente um para o outro, em clinica, pois caminham juntos, e dialogam com o intuito de que o partilhante encontre em si mesmo o que se mantinha velado.

Esclarece ainda que:

“O filósofo clínico é um eterno estudante, ele caminha com seu cliente através do diálogo em uma direção que, a priori, ele não sabe onde irá chegar. Muitas vezes é uma reconstrução da história de vida do cliente. Muitas vezes, o simples fato de ordenar a história é suficiente para que ele viva melhor.”

A concepção de Paulo nos aponta para um profissional que deve cuidar sempre da sua formação, porém sem se esquecer da prática e de um diálogo ordenado durante o  processo clínico. Paulo nada diz sobre relações de amizade ou o contrário, mas sim de uma relação de constante aprendizado de ambas as partes objetivando a busca existencial do partilhante.

As definições apresentadas até aqui podem ser consideradas como as concepções mais clássicas de quem é o filósofo clínico e quem é o partilhante. 

(...)

*Marta Claus
**Revista Partilhas
 Instituto Mineiro de Filosofia Clínica Ano IV, n. 4, nov. 2017

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