Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2018

Colcha de retalhos*

Desenrolava O novelo de lã Na varanda De sua morada. Tricotava Sua vida Entre os nós Que fazia E em cada retalho Que juntava Ainda lembrava De quanto amara... E no embalo Da rede Do seu coração Costurava Suas saudades Entrelaçava Suas lembranças E de ponto Em ponto Se construía Numa colcha De retalhos... *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes***

"O poema, ser de palavras, vai além das palavras e a história não esgota o sentido do poema; mas o poema não teria sentido - e nem sequer existência - sem a historia, sem a comunidade que o alimenta e à qual alimenta" "A palavra poética jamais e completamente deste mundo: sempre nos leva mais além, a outras terras, a outros céus, a outras verdades" "Condenado a viver no subsolo da história, a solidão define o poeta moderno. Embora nenhum decreto o obrigue a deixar sua terra, é um desterrado" "O programa surrealista - transformar a vida em poesia e operar assim uma revolução decisiva nos espíritos, nos costumes e na vida social" "(...) a experiência poética é um estado de exceção (...)" "A contradição do diálogo consiste em que cada um fala consigo mesmo ao falar com os outros; a do monólogo em que nunca sou eu, mas outro, o que escuta o que digo a mim mesmo" "O homem é o inacabado, ainda que s

O Viajante*

“Tudo isso é a passagem aos nossos olhos. E nada disso ela foi outrora.” Walter Benjamin Um amor além desta cidade, O verão queima as casas, os telhados brilham, Um amor além deste lugar, A vida é mais que um prato à mesa, É a fome dos fantasmas que vivem nesta cidade. Um verão a mais na vida dos meus planos, Depois desta cidade não existe mais um lugar para morar sozinho. Um amor além desta cidade só com você, Lá na beira do Sena, irei plantar meu sonho, Ele nunca morreu, irei catar lixo para sobreviver de amor. Irei morar em baixo da ponte para pagar o teu doce preferido, um amor além desta cidade é preciso. Vamos envelhecer longe daqui, que ninguém nos ouça: Vamos embora quando findar o dia, o avião não espera ninguém. Partimos!   *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) este mundo que não sou eu, e ao qual me apego tão intensamente como a mim mesmo, não passa, em certo sentido, do prolongamento de meu corpo; tenho razões para dizer que eu sou o mundo" "(...) compreender é traduzir em significações disponíveis um sentido inicialmente cativo na coisa e no mundo" "O segredo do mundo que procuramos é preciso, necessariamente, que esteja contido em meu contato com ele. De tudo o que vivo, enquanto o vivo, tenho diante de mim o sentido, sem o que não o viveria e não posso procurar nenhuma luz concernente ao mundo a não ser interrogando, explicando minha frequentação do mundo, compreendendo-a de dentro" "A literatura, a música, as paixões, mas também a experiência do mundo visível são tanto quanto a ciência de Lavoisier e de Ampére, a exploração de um invisível, consistindo ambas no desenvolvimento de um universo de ideias" "A filosofia não propõe questões e não traz as respostas que pr

Poética clandestina*

                           “A alquimia do verbo é um delírio”                                                                                                                                                                    Arthur Rimbaud                                                                                                                                                                     Uma profecia de caráter excepcional recai sobre alguns escolhidos, parecem surgir de uma cepa rara, sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir como transgressão, desconstroem a certeza de uma só versão para todas as coisas.     A atitude inesperada de toda razão oferece uma perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte, subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes de virar comentário ou técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros, reapresentada na inspiração libertária dos movimentos da irre

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"No fundo da prática científica existe um discurso que diz: 'nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que no entanto está somente à espera de nosso olhar para aparecer, à espera de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está presente aqui e em todo lugar"  "Se existe uma geografia da verdade, está é a dos espaços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá-la" "A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua política geral de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros d

Leituras de Filosofia Clínica III*

“Lembro-me, já nos últimos tempos de sua estada conosco, de um conceito dessa natureza, que nem chegou a ser mesmo um conceito, mas antes unicamente um olhar. Foi quando um célebre historiador e crítico de arte, de renome europeu, anunciou uma conferência na universidade local e logrei persuadir o Lobo da Estepe a que fosse assistir a ela, embora não me demonstrasse nenhum prazer em ir. Fomos juntos e nos sentamos um ao lado do outro no auditório. Quando o orador subiu a tribuna e começou a elocução, decepcionou, pela maneira presumida e frívola de seu aspecto, a muitos de seus ouvintes, que o haviam imaginado algo assim como um profeta. E quando então começou a falar e, à guisa de introdução, endereçou aos ouvintes palavras lisonjeiras, agradecendo-lhes por terem comparecido em tão grande número, nesse exato momento o Lobo da Estepe me lançou um olhar instantâneo, um olhar de crítica àquelas palavras e a toda a pessoa do conferencista, oh!, um olhar inesquecível e tremendo, sobr

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"E tal é precisamente a intuição primeira de Descartes: ele compreendeu, melhor do que ninguém, que a menor manobra do pensamento mobiliza todo o pensamento, um pensamento autônomo que se põe, em cada um de seus atos, em sua independência plena e absoluta" "É por isso que nós franceses, que vivemos há três séculos conforme a liberdade cartesiana, entendemos implicitamente por 'livre-arbítrio' antes o exercício de um pensamento independente do que a produção de um ato criador (...)" "É que na embriaguez de compreender sempre aparece a alegria de nos sentirmos responsáveis pelas verdades que descobrimos" "Renard escreve em 7 de janeiro de 1889: 'Pôr na abertura do livro: 'Não vi tipos, mas indivíduos'. O cientistas generaliza, o artista individualiza'" "(...) o olho prefigura, seleciona aquilo que vê. E esse olho não está dado de saída: ele tem de inventar sua maneira de ver; por isso determina-se a

Força Interior*

Tem momentos na vida que precisamos aprender a domar nosso tigre interior. A história é simples. É minha, é sua, é nossa. É a jornada do herói. De repente, sem mais nem menos surge um fenômeno que nos tira do centro. Somos desafiados a provar que o que aprendemos foi de verdade. No mundo comum surge a Consciência de um problema implorando solução. Algo muda tão drasticamente que chama o herói a ação. Há a necessidade de se tornar algo mais que um homem comum.Somos chamados à aventura, aumenta nossa consciência A solução tem varias portas. Cada pessoa escolhe de acordo com sua singularidade, porém temos que domar nosso tigre interior. Melhor que todos tem o poder de fazer isto! O grande segredo é não se deixar ser engolido pelo ego vitimizado, entrar no jogo do carente e impotente, ficar na queixação. Há em nós um guerreiro, não importa a circunstância. Diante a doença, as perdas amorosas e financeira, da exploração e da corrupção, da agressão e do ódio, da

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Se o médico objetivar o outro para fazer um diagnóstico, está a alterar integralmente o campo real, apresentado, da experiência e do comportamento, e esta é de fato uma forma de violência que a outra pessoa sente como tal, embora possa encontrar-se demasiado mistificada e submissa na situação de poder médico para se afirmar a si própria como um sujeito real e existente. O ato de diagnóstico em psiquiatria, portanto, de modo nenhum é uma ação médica como é vulgarmente entendida; antes é uma intervenção micro-política mediadora que caracteriza o macro-sistema de uma sociedade repressiva"  "Razão e desrazão são ambas maneiras de conhecer. A loucura é uma maneira de conhecer, outro modo de exploração empírica dos mundos tanto 'interior' como 'exterior'. A razão para a exclusão e invalidação da loucura não é puramente médica, nem estritamente social. É, como tentarei demonstrar, política" "Para tratar a loucura não há outra arma senão a

Inspiração e liberdade*

As mudanças são decisões que primeiro se concretizam dentro de nós. Elas são inevitáveis! Por isso, perceber que nas sementes podem habitar jardins inteiros faz toda a diferença. É essa ousadia do olhar que provoca desprecarização da capacidade de observar. E é isso que nos ajuda a convir que há pessoas muito especiais ao nosso alcance agora. E elas ainda não são muitas, mas são verdadeiramente capazes de sentir muitas fragrâncias e sabores ainda no momento do plantio, muito antes de qualquer desabrochar. São essas as pessoas que mais devemos procurar nos manter próximos, sobretudo, porque nenhuma delas ignoram a poesia e sempre tem a coragem de serem autênticas tendo como maior consequência nos inspirar e nos ensinar através de exemplos lindos e libertários demais. Musa! Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Poeta. Escritor. Filósofo Clínico. Livre Pensador. Uberlândia/MG – Porto Alegre/RS

Com licença poética*

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. *Adélia Prado

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Não pode imaginar o quanto é amargo para mim quando as pessoas não me compreendem, quando deturpam o que eu disse e veem tudo distinto do que eu pensei" "(...) A cada dia surgem novidades, tantas mudanças e impressões, coisas boas e agradáveis, outras desvantajosas e desagradáveis, que não tenho tempo para refletir sobre elas. Em primeiro lugar, estou sempre ocupado. Tenho montes de ideias e escrevo incessantemente. Mas não pense que para mim isso seja um mar de rosas. Longe disso." "Fico imensamente feliz por ter descoberto que trago paciência em minha alma por tanto tempo, que não desejo as coisas materiais e não preciso de nada mais que livros e a possibilidade de escrever e de estar sozinho por algumas horas todos os dias. Esse último desejo é o que mais me angustia. Por quase cinco anos tenho estado sob constante vigilância ou com várias outras pessoas, e nem uma hora sequer sozinho comigo mesmo" "(...) Escreve muito rápid

A palavra interminável*

                             A expressão escrita se parece, cada vez mais, como um anúncio. Uma propedêutica interminável de algo estranhamente íntimo. Associação de deslocamentos pelos labirintos de si mesma. Busca por traduzir eventos refugiados num tempo próprio, no desvão de cada discurso existencial, como uma ficção nas entrelinhas do dia-a-dia. Pode ser essa a característica fundamental de quem se escreve: a procura pela palavra mágica que irá abrir espaço e acolher aquilo ainda sem nome. Cabe notar que essas transcrições, muitas vezes recheadas de ponto final, persistem em contradições, vírgulas, reticências...  Alguns eventos se passam num roteiro sem legendas, numa língua desconhecida a descrever o inesperado pelas incompletudes discursivas. Seu caráter de inquietude acena com múltiplos cenários. O olhar condicionado - a pretexto de ciência - vê definições, descarta originalidades diante do espelho embaçado por suas certezas, num convívio com o lugar onde se in

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Mudar o nível de percepção: trata-se de um choque que abala o mundo classificado, o mundo nomeado (o mundo reconhecido) e, por conseguinte, libera uma verdadeira energia alucinatória. Na verdade, se a arte (mantemos esse nome cômodo, para designar toda atividade não funcional) tivesse o único objetivo - fazer ver melhor -, seria apenas uma técnica de análise, um ersatz de ciência (foi a pretensão da arte realista); mas, ao tentar produzir a outra coisa que está na coisa, subverte toda uma epistemológica: a arte é esse trabalho ilimitado que nos libera de uma hierarquia corrente (...)" "Tomemos um objeto usual: não é seu estado de novo, virgem, que melhor traduz sua essência; é mais bem seu estado de resíduo, um pouco desgastado, um pouco abandonado: é no resíduo que se lê a verdade das coisas. É no seu rastro que está a verdade do vermelho; é na tênue marca de um traço que está a verdade do lápis" "O sentido óbvio é temático: existe um tema , o s

Ensaio dos possíveis*

                                    “Cada indivíduo é o centro do universo, e é apenas porque o universo está repleto de tais centros que ele é precioso.” Elias Canetti Um belo dia, manhã, uma manhã cinza no dia de um homem, ele acorda. Os pensamentos são formados nas madrugadas, nos dias, no silêncio do sono. A sua formação não é uma enciclopédia, um compêndio, um quadro estático na parede sem cores nem relógios. O formato que se tem é que a vida é uma sucessão de acontecimentos. Teorias ao longo dos séculos. Esse homem atravessou parte do ocaso do século XX, vivendo intensamente as mudanças sofridas e impostas no Ocidente. O Ocidente impôs. O pensamento no mundo ocidental, uma parte viva do mundo, que está na Complexidade de Morin, já não serve mais como uma simples descrição de fenômenos, mas o é, também.  Nesse belo dia, o homem percebe que é o mesmo dessas alterações, que é parte de uma mesma coisa, de tudo no mundo. Não é literatura; é a realidade esfacelando-se

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"As linguagens transgressivas são antes signos dialógicos destinados a todos e a ninguém, e que são, ao mesmo tempo, signos precursores de uma conscientização múltipla" "A vanguarda é então um discurso que reescreve constantemente a experiência estética. Assim sendo, a vanguarda mantém uma relação ativa com a modernidade. Nessa dialética pode-se introduzir o pós-modernismo, mas como uma estrutura diferencial, e não como o fim da modernidade" "Nesse polimorfismo literário, as vanguardas se destacam por marcarem, cada vez, o advento de uma linguagem nova. As vanguardas que reescrevem e perlaboram a modernidade também garantem sua sobrevivência para além de suas descontinuidades" "(...) o gesto vanguardista por excelência é a provocação verbal ou visual. Os criadores vanguardistas que se batizam de futuristas, surrealistas, dadaístas, ultraístas, criacionistas. minimalistas, maximalistas, proclamam sua diferença e operam a ruptura"

Ao Deus desconhecido...*

“De pé, então, no meio do Areópago, Paulo falou: ‘Cidadãos atenienses! Vejo que, sob todos os aspectos, sois os mais religiosos dos homens. Pois, percorrendo a vossa cidade e observando os vossos monumentos sagrados, encontrei até um altar com a inscrição: ‘Ao Deus desconhecido’. Ora bem, o que adorais sem conhecer, isto venho anunciar-vos’” (Atos dos Apóstolos 17, 22-23) Quais templos de dúvidas estamos reservando ao Deus desconhecido? Será que podemos colocar um deus no lugar de um templo cujo lugar esteja reservado para as nossas maiores dúvidas. Preenche-lo não seria um abandono da possibilidade das buscas? Será que não é a busca que move o homem e este cada vez que responde definitivamente determinadas questões acaba diminuindo suas capacidades e movimentos naturais da vida? Mestre Eckhart, místico medieval dizia que as imagens de deus eram criações que o afastam de deus. Portanto, a máxima dele: “Peçamos a Deus que nos livre de deus”. Tendo em conta que esta divagação

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Se a linguagem, nos seus termos conceituais complexos, não constitui um reflexo da realidade sensível, mas antes um reflexo de operações do espírito, conclui-se necessariamente que este reflexo pode e deve efetuar-se de maneiras infinitamente múltiplas e variadas" "Se o conteúdo e a expressão do conceito não dependem da matéria que compõe as diversas representações sensíveis, e sim da forma de sua combinação, cada novo conceito da linguagem representa uma nova criação do espírito" "(...) o que denominamos de essência e forma da linguagem nada mais é do que o elemento permanente e uniforme que podemos detectar, não em uma coisa, mas no trabalho realizado pelo espírito para fazer do som articulado a expressão de um pensamento" "Lembrando Humboldt: 'No fundo, escreveu ele já em 1805, em carta dirigida a Wolf, 'tudo o que faço consiste em estudar a linguagem. Acredito ter descoberto a arte de usar a linguagem como um veículo que

O Preço de escrever*

Este é o artigo número 200 deste blog. Nunca imaginei que manteria essa atividade por tanto tempo com tamanho entusiasmo e regularidade. Começou como uma brincadeira e foi ficando. Antes de qualquer coisa, quero agradecer aos leitores que me acompanharam, criticaram, aconselharam e, especialmente, tiveram paciência comigo na riqueza e na pobreza dos textos. Preciso de vocês, mas também devo confessar algo que talvez não gostem de saber. Escrever é o verdadeiro prazer, ser lido é uma satisfação complementar. Jamais tive obrigação alguma de produzir textos. Escrevo porque gosto, sinto prazer, relaxo, me forço a pensar, desligo do cotidiano e no final, quando nasce o texto, quase sempre, sou possuído por um sentimento de arrebatamento. Em cada argumento que produzo, me dou o luxo de viajar com as ideias para qualquer lugar. Posso também ser quem eu quiser e, se me der vontade, utilizar minha caneta como uma arma potente e terrível, criticando, polemizando, elogiando, detonando,

Visitas