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A palavra interminável*


                          

A expressão escrita se parece, cada vez mais, como um anúncio. Uma propedêutica interminável de algo estranhamente íntimo. Associação de deslocamentos pelos labirintos de si mesma. Busca por traduzir eventos refugiados num tempo próprio, no desvão de cada discurso existencial, como uma ficção nas entrelinhas do dia-a-dia.

Pode ser essa a característica fundamental de quem se escreve: a procura pela palavra mágica que irá abrir espaço e acolher aquilo ainda sem nome. Cabe notar que essas transcrições, muitas vezes recheadas de ponto final, persistem em contradições, vírgulas, reticências... 

Alguns eventos se passam num roteiro sem legendas, numa língua desconhecida a descrever o inesperado pelas incompletudes discursivas. Seu caráter de inquietude acena com múltiplos cenários. O olhar condicionado - a pretexto de ciência - vê definições, descarta originalidades diante do espelho embaçado por suas certezas, num convívio com o lugar onde se insinuam passagens secretas, desvãos narrativos, criatividade...  

Mais que descobrir verdades, ao encontrar os meios para traduzir invisibilidades, trata-se de um renascimento de algo que parecia esquecido. Uma forma silenciada pela escassez de vocabulário.

A explicação quase sempre chega atrasada nesses territórios da novidade. Quando consegue encontrá-los essa já se foi, inconformada pelas tentativas de decifração por inteiro. Existem, ainda, àqueles dialetos disfarçados de simplicidade, com eles é possível mencionar lonjuras e complexidades, escondidos num texto qualquer. A descoberta desse léxico nos concede horizontes a perder de vista, um olhar inédito sobre aquilo que se reapresenta.   

Quais segredos se refugiam na palavra que se diz ?  

Uma arte da expressão se emancipa no convívio com um talvez. Suas páginas acolhem a existência das palavras desmerecidas. Investiga, significa, analisa, numa busca para a redação compartilhada dos dialetos ilustres e desconhecidos a conviver nos intervalos da vida normal. Uma escrita assim esboça uma interseção com a parcela de infinito em cada um.  

*Hélio Strassburger

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