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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"De fato, todo o filme parece dizer que não há diferença, que a vida imaginária é tão real quanto a outra, e que a vida que tomamos por real pode a qualquer momento se tornar inverossímil, absurda, anormal, perversa, levada a extremos por nossos desejos ocultos"

"O indefinível era melhor do que o específico, ainda que exótico. Buñuel, além disso, sonhava em introduzir sorrateiramente algumas informações falsas em todos os seus filmes, como que para minar e desviar ligeiramente o rumo da história e da geografia; a verdade fiel o aborrecia tanto quanto um espartilho apertado"

"Também sabemos que de início praticamente todas as obras-primas foram rejeitadas e vilipendiadas. É quase uma regra. Toda obra realmente forte tem que incomodar. Na verdade, isso é um sinal da sua força"

"Nosso século testemunhou a invenção de uma linguagem e diariamente observa a sua metamorfose. Ver uma linguagem ganhar vida, uma verdadeira linguagem apta a dizer qualquer coisa, e participar, mesmo que como espectador, desse contínuo processo de descoberta, me impressiona por ser um fenômeno singular, que deveria estimular semiólogos, psicólogos, sociólogos e antropólogos"

"Linguagem viva, como acentuam os linguistas, é aquela na qual você ainda pode cometer erros. Linguagem perfeita é a que está morta. Nem se modifica, nem hesita. Por sorte, estas eram regras muito frágeis, foram esquecidas imediatamente. Nenhum manual de gramática cinematrografica - estética, prática ou comercial -sobrevive a um período superior a dez anos. Tudo se desmonta constantemente e volta a se reagrupar" 

"Apesar do aparente paradoxo, parece correto, porque um verdadeiro autor nunca sabe exatamente o que quis dizer. Mal sabe o que disse. Ele é o que Victor Hugo chamou de 'a boca das trevas'. As palavras são transmitidas através dele, com frequência bastante fora de seu controle. Elas vêem de regiões obscuras; quanto mais rico e profundo for o gênio do autor, mas vastas serão estas regiões. Ele as partilha com outros e até, no caso dos maiores escritores, com toda a espécie humana, porque se torna uma das vozes da humanidade"

*Jean-Claude Carrière in "A linguagem secreta do cinema". Ed. Nova Fronteira. RJ. 2006.

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