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Invisibilidades*



"Não pude dispersar os meus deslimites
Que caiam e refaziam os caminhos de volta a mim.
E agora... encontro-me enfermo de sonhos!”
Djandre Rolim

Um reflexo parece dizer sobre se estar dentro da vida e fora do tempo, como uma ficção exilada na realidade. Ao ter uma epistemologia de subúrbio, sua filosofia da estranheza esboça um soar excessivo.

A atitude introspectiva refaz manuscritos sobre o fenômeno à deriva no traço. Interseção extraordinária entre o lapso das travessias e as poéticas do absurdo. Atualiza a visão desses delicados contornos a se deslocar, parece reivindicar uma arte de tornar-se.

A partir desse sujeito transbordando originais, os excepcionais eventos integram a irrealidade presente no cotidiano. Esse esboço de eus ficaria irreconhecível, não fosse essa tradução nas entrelinhas de ir e vir.

O estrangeiro de cada um se oferece nos trocadilhos, distorções, contradições quase imperceptíveis, muitas vezes em labirintos de lógica kafkiana, onde se rascunha a aptidão de estar inteiro em cada momento.

Talvez a pessoa, na descrição inédita para si mesma, consiga dar visibilidade a essas raridades. A releitura, ao apontar o movimento daquilo que fica, pluraliza combinações, alternâncias nos vãos dos manuscritos de si mesma. Sua designação de caráter flutuante ressoa nas palavras sem sentido. Assim pode sair de um lugar a outro, descrever horizontes.

As práticas de ser singular se sustentam entremeios de incertezas, suspeitas sobre esse estranho na própria casa. Uma subjetividade assim descrita possui lógicas de centro e periferia, desloca-se quase invisível pelas sucessivas vizinhanças. Em seu mundo, arrumar as malas significa reinventar caminhos. A quimera do olhar itinerante multiplica-se com essas frequências internadas na rua. Sua contradição refere outras verdades diante do espelho.

A utopia vivenciada no mundo das ideias ameaça, com sua vertigem especulativa, descobrir recantos, prescrever amanhãs. Um lugar onde a natureza existe antes da palavra. Sua inquietude precursora se anuncia em dialetos, sua pronuncia reivindica a leitura visionária.  

*Hélio Strassburger in “A palavra fora de si – anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed. Multifoco. RJ. 2017.

**O autor trabalha há 40 anos com aulas e atendimentos em instituições de periferia, marginais. Numa convivência com morros, asilos, hospitais gerais e psiquiátricos, associações comunitárias, dentre outros espaços, nas cidades onde tem residido, compartilhando uma Filosofia Clínica libertária.  

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