"O fantástico leva pois uma vida cheia de perigos, e pode se desvanecer a qualquer instante (...)"
"Cita Alan Watts: 'Pois neste mundo não há nada de errôneo, nem mesmo de estúpido. Sentir um erro é simplesmente não ver o esquema no qual se inscreve tal acontecimento, não saber a que nível hierárquico este acontecimento pertence'"
"É curioso observar aqui que semelhante ruptura dos limites entre matéria e espírito era considerada, em especial no século XIX, como a primeira característica da loucura. Os psiquiatras afirmavam geralmente que o homem "normal" dispõe de muitos quadros de referência e liga cada fato a um deles exclusivamente"
"Cita Angyal: 'É notório que a aptidão dos esquizofrênicos para separar os domínios da realidade e da imaginação fica enfraquecida. Contrariamente ao pensamento dito normal que teria que ficar dentro do mesmo domínio, ou quadro de referência, ou universo de discurso, o pensamento dos esquizofrênicos não obedece às exigências de uma referência única'"
"Mas é justamente o que se passa na literatura fantástica: o limite entre matéria e espírito não é aí ignorado, como no pensamento mítico por exemplo; ele permanece presente para fornecer o pretexto às transgressões incessantes"
"(...) Aqui também, o terreno é incerto; somos levados a nos apoiar em descrições (do mundo psicótico) feitas a partir do universo do homem 'normal' (...)"
"Palavras emprestadas ao léxico comum recebem um sentido novo que o esquizofrênico mantém individual (...)"
"É da própria natureza da linguagem cortar o dizível em pedaços descontínuos; o nome, ao escolher uma ou várias propriedades do conceito que o constitui, exclui todas as outras propriedades e coloca a antítese deste e de seu contrário"
*Tzvetan Todorov in "Introdução à literatura fantástica". Ed. Perspectiva. SP. 2004.
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