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Colorindo estradas tristes***



Meu primeiro amor tinha gosto de estrada e som de montanha
Jeito de botina de couro no caminho de chão e cheirinho de mato molhado...
Tinha um ninho quente e pequenino, tão imenso quanto o abraço mais seguro!

Meu primeiro amor ensinava o passo a passo da vida com melodia e papo madrugueiro...
Pensava mais profundo que os pensadores e brincava rasinho, lindo como uma criança levada.

Meu primeiro amor mostrou verdades abafadas, historias, dramas, causos, souvenires
mas acima de tudo o amor em si
matizado de toda sorte de dor e delícia
cheio de som e lareira,
ladeira subida e descida...

Meu primeiro amor era inventor de jeitos e coisas:
Paredes de pendurar utilidades, banhos de leito pra quem tem sono, acendedor de fogueira hiperinstantaneo, métodos de ensino duros, rápidos e aventureiros...

Meu primeiro amor dava presentes com o olhar e podia fazer que qualquer um fizesse qualquer coisa, só de ver seu semblante iluminado por aquele sopro de criança excêntrica com seus prodígios de outro mundo!!!

Meu primeiro amor era incompreendido por gente de cuca limitada e cega de razões forjadas
Mas nem ligava pra coisa assim, porque era mais! - E a gente, que interessa, sabia bem dessa segredice pra lá de bonita!

Meu primeiro amor tinha tantas vidas, quantas foram necessárias pra gente nunca saber qual seria a última! Até porque a última só tem aqui no couro, né?

Meu primeiro amor me deu eu, tudo o que sou, e ainda montes de vivência que dá nem pra ficar palavreando por aí sem sentido...

Meu primeiro amor é sempre e mais vivo, quanto se cobre o mundo com autenticidade...

Meu primeiro amor amava grande, cheio de entrega, arte e sonho, explicando a filosofia contida nos sons, indo nos limites de tudo, ladeando os precipícios com intrepidez de menino!

Meu primeiro amor era um infante com quepe de jornal asteando a bandeira do afeto pelo qual se deve brigar com flores!

Meu primeiro amor era visto em mim, porque em mim morava e vive!!!

Meu primeiro amor, construía castelos, abria trilhas e pequeniqueava em clareiras cheias de musicalidade...

Meu primeiro amor era e é gente espontânea, livre, de verdade... Galgando de cada sonho lição ou glória!!!

Meu primeiro amor tinha peito bom de recostar, criava os melhores apelidos e sorria tão bonito, que ainda sorri de outro lugar e escuto.

Meu primeiro amor era de uma loucura estética, emoldurando de movimento as chatices dos normais
colorindo a aridez sóbria das estradas tristes...

Meu primeiro amor, era, é e resiste na infinita liberdade que enfim alçou.

Como num vôo eterno pra um infinito com mais gente como a gente, e menos jugo inútil das aparências enganosas, que ferem a criança plena...

Meu primeiro e eterno amor!

*Jullie Do Guati
Pesquisadora e roteirista na empresa Cine culte français. Agitadora e Inovadora Cultural na empresa Mova-se (Movimento Artístico de Subversão e Estética). Musicista. Filósofa Clínica.
Curitiba/PR

**Para o véio Guati

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